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A doenca como linguagem da alma.pdf

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em <strong>como</strong> o ritmo natural <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Isso somente se torna possível através de<br />

um jogo de cabra-cega organizado coletivamente e que atinge todos os<br />

planos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Estamos tão orgulhosos devido à maior expectativa de<br />

vi<strong>da</strong> que convulsivamente deixamos de ver que dessa maneira o que<br />

aumentou foi sobretudo a expectativa <strong>da</strong> velhice. quando a medicina quer<br />

livrar-nos <strong>da</strong> suspeita de que somos uma ver<strong>da</strong>deira socie<strong>da</strong>de do câncer,<br />

ela argumenta que isso se deve à maior expectativa de vi<strong>da</strong>. Somente dessa<br />

maneira alcançamos uma i<strong>da</strong>de em que o câncer é mais freqüente.<br />

Naturalmente, esse argumento pode ser transposto para muitos quadros de<br />

sintomas, do reumatismo ao diabete. Tentativas de prolongar a vi<strong>da</strong><br />

artificialmente por meio, por exemplo, de uni<strong>da</strong>des de terapia intensiva,<br />

muitas vezes prolongam somente o sofrimento. Neste ponto, a medicina<br />

acadêmica é quase uma medicina <strong>da</strong>s sombras, já que faz tanta justiça ao<br />

escuro reino <strong>da</strong>s sombras e dos fantasmas. As modernas uni<strong>da</strong>des de<br />

terapia intensiva são os próprios lugares mal-assombrados desse mundo, por<br />

onde perambulam seres que estão entre a vi<strong>da</strong> e a morte, que não estão à<br />

vontade nem lá, nem cá. Quem pode medir o que sofre uma <strong>alma</strong> enquanto<br />

seu corpo em coma amarrado em uma cama não pode morrer e não pode, às<br />

vezes durante anos, seguir seu caminho?<br />

2. A guerra moderna contra o padrão <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

Em nenhuma outra época houve uma cultura que ignorou com tanto êxito<br />

aquelas fases de desenvolvimento que iluminam os processos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e, com<br />

isso, também os <strong>da</strong> velhice, transformando assim as crises <strong>da</strong> maturi<strong>da</strong>de em<br />

catástrofes. Começa com o nascimento, do qual fazemos um drama médico<br />

único. Ca<strong>da</strong> vez mais nascimentos são classificados <strong>como</strong> sendo de risco e<br />

solucionados por meio de cesarianas. Isso quer dizer uma única coisa: o<br />

começo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> torna-se ca<strong>da</strong> vez mais arriscado. quando se pensa que todo<br />

começo já concentra o desenvolvimento posterior em um pequeno espaço,<br />

esse fato lança uma luz que caracteriza nossa época. Vamos ao encontro do<br />

inicio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> ca<strong>da</strong> vez mais problemático medicamente armados e, com isso,<br />

deixamos de ver que somos nós mesmos que tornamos tudo tão<br />

terrivelmente complicado e perigoso.<br />

Um rebento relativamente jovem <strong>da</strong> ciência médica, a ginecologia,<br />

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