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A doenca como linguagem da alma.pdf

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Eles têm a exigência de uma firmeza e uma fideli<strong>da</strong>de aos princípios que<br />

chega à rigidez e à obstinação. O declínio <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de concentração,<br />

assim <strong>como</strong> a incontinência <strong>da</strong> bexiga, é uma tentativa de auto-aju<strong>da</strong> do<br />

corpo. Sem concentração torna-se impossível para o afetado persistir<br />

trilhando os caminhos aos quais está acostumado. Ao contrário, eles são<br />

atirados fora <strong>da</strong> pista o tempo todo, esquecem o assunto e precisam orientarse<br />

novamente.<br />

Eles certamente também perdem a reali<strong>da</strong>de de vista de maneira muito<br />

concreta, já que o sentido <strong>da</strong> visão também se deteriora com freqüência. Nas<br />

raras visões luminosas, tais <strong>como</strong> relâmpagos claros, pode-se ver a tentativa<br />

do organismo de acender uma luz para o paciente em relação à sua<br />

percepção. Eles evidentemente vêem coisas que não existem. Muitas vezes<br />

véus recobrem os olhos e ocorrem surtos periódicos de cegueira. Quando<br />

exatamente meio campo de visão desaparece, a interpretação é simples: só<br />

se vê ain<strong>da</strong> uma metade (a própria) <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. Imagens duplas, que<br />

surgem com freqüência, denotam uma duplici<strong>da</strong>de de interpretação e de<br />

sentido bastante perigosa. Expressões <strong>como</strong> "fundo duplo" ou "dupla moral"<br />

dão a entender a quali<strong>da</strong>de que aqui participa. Faz parte também desse<br />

contexto o fato de que as concepções morais e éticas são muitas vezes tão<br />

estritas que o que é simplesmente não pode ser. As imagens duplas também<br />

podem apontar para isso. A reali<strong>da</strong>de - sem que se perceba - é medi<strong>da</strong> com<br />

duas medi<strong>da</strong>s.<br />

A dupla ótica dá a entender que se tenta viver simultaneamente em dois<br />

mundos incompatíveis. O mundo <strong>da</strong>s próprias necessi<strong>da</strong>des e o <strong>da</strong>s<br />

exigências do meio ambiente são incompatíveis, razão pela qual a maioria<br />

dos pacientes decide, inconscientemente, atenuar de maneira drástica os<br />

próprios sentimentos e percepções ou simplesmente não mais perceber.<br />

Entretanto, as imagens duplas mostram que as idéias próprias continuam<br />

existindo na sombra e a partir <strong>da</strong>í entram em concorrência com o mundo<br />

externo. Os pacientes de EM são, por assim dizer, crianças de dois mundos<br />

(em luta um <strong>como</strong> outro). Eles não podem levantar-se inteiramente em<br />

nenhum desses mundos e sentam-se entre os assentos. Duas percepções<br />

que não se coadunam fazem muitas vezes com que uma delas se torne<br />

vertiginosa. O mecanismo é o mesmo do enjôo quando se viaja de navio.<br />

Simplesmente, uma vertigem se faz presente.<br />

As freqüentes perturbações do equilíbrio encaixam-se aqui. Elas mostram<br />

quão pouco os pacientes estão em harmonia, animicamente falando. Eles se<br />

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