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A doenca como linguagem da alma.pdf

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A sintomática começa de forma discreta, com leves perturbações <strong>da</strong><br />

memória, sobretudo a memória recente, permanecendo intacta a memória<br />

distante. É uma situação típica de pessoas idosas, quando esquecem aquilo<br />

que está próximo mas recor<strong>da</strong>m bem o passado remoto. À medi<strong>da</strong> em que a<br />

doença progride, levando ao declínio de forma lenta e implacável,<br />

freqüentemente somam-se a isso inquietude e agitação, que forçam o<br />

paciente a <strong>da</strong>r pequenos passos, além de perturbações <strong>da</strong> orientação e <strong>da</strong><br />

<strong>linguagem</strong>, problemas com o reconhecimento, bem <strong>como</strong> dificul<strong>da</strong>des para<br />

levar a cabo atos coerentes, finalmente depressões e, mais raramente,<br />

perturbações eufóricas do ânimo.<br />

O quadro de sintomas ocorre sempre na segun<strong>da</strong> metade <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, o que<br />

quer dizer à época do retorno e do recolhimento. A interpretação do sintoma<br />

aponta para a relação com o caminho de desenvolvimento e mostra <strong>como</strong> a<br />

ligação com esse caminho se perdeu, ou seja, foi empurra<strong>da</strong> para o corpo. A<br />

exigência cristã de voltar a ser <strong>como</strong> as crianças mergulhou nas sombras, os<br />

afetados se tornam infantis e regridem no sentido concreto.<br />

Os lapsos progressivos <strong>da</strong> memória recente mostram <strong>como</strong> se desistiu <strong>da</strong><br />

responsabili<strong>da</strong>de por aquilo que está próximo. Os pacientes esquecem sua<br />

vi<strong>da</strong> no sentido mais ver<strong>da</strong>deiro <strong>da</strong> palavra, partindo do presente e<br />

retrocedendo ca<strong>da</strong> vez mais no passado. Com o colapso <strong>da</strong> memória, eles<br />

são forçados impiedosamente a viver no presente, ou seja, o passado e o<br />

presente tornam-se uma e a mesma coisa. A vi<strong>da</strong> no aqui e agora, o objetivo<br />

do caminho do desenvolvimento, têm algo de horrível sob essa forma nãoredimi<strong>da</strong>.<br />

No mergulho redimido no momento presente, as tarefas essenciais<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> na polari<strong>da</strong>de ficam para trás, enquanto nos pacientes de Alzheimer<br />

a inquietação e a agitação traem tudo aquilo que eles ain<strong>da</strong> têm diante de si.<br />

Com a per<strong>da</strong> do tempo, a compreensão do caminho <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e suas tarefas<br />

fica no meio do caminho. Quem não se lembra de na<strong>da</strong> e vive fora do tempo<br />

linear não pode mais assumir nenhum tipo de responsabili<strong>da</strong>de. A per<strong>da</strong> do<br />

sentido de orientação vai na mesma direção. Nenhum objetivo foi alcançado<br />

no fim <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>; perdeu-se o caminho. Os pacientes não sabem mais onde<br />

estão, nem para onde isso leva. Com a orientação, eles perderam<br />

literalmente o oriente, a direção <strong>da</strong> qual provém a luz, segundo as escrituras<br />

sagra<strong>da</strong>s. Ao final de seu caminho não há luz, e portanto não há esperança.<br />

As depressões freqüentes envolvem essa ausência total de perspectiva e de<br />

esperança. A falta de prudência e de consideração, que de forma tão<br />

inquietante pode <strong>da</strong>r nos nervos <strong>da</strong>s pessoas próximas, surge de maneira<br />

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