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A doenca como linguagem da alma.pdf

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que é fotografado do lado de fora está realmente lá fora. Nós mostramos no<br />

primeiro volume <strong>como</strong> essa suposição tão óbvia para nós é problemática. Na<br />

reali<strong>da</strong>de, nós vemos tudo internamente e o explicamos <strong>como</strong> sendo o<br />

mundo exterior. Este, entretanto, é o mecanismo <strong>da</strong> projeção, com cuja<br />

aju<strong>da</strong> empurramos para fora tudo aquilo que não podemos suportar em nós.<br />

O olho, portanto, fornece a base tanto para a racionalização <strong>como</strong> para a<br />

projeção, favorecendo nossas valorações e promovendo a escolha e, com<br />

ela, a limitação do mundo. Como ele faz tudo isso a serviço do pensamento e<br />

sua visão de mundo linear, racional e avaliadora, a consciência se vinga com<br />

um artifício ousado: ela sugere que to<strong>da</strong>s as percepções de nossos olhos são<br />

objetivas, ou seja, que aquilo que nós imaginamos lá fora corresponde à<br />

reali<strong>da</strong>de.<br />

Nossa visão de mundo e o predomínio do intelecto estão baseados nesse<br />

truque. Em última instância, isso se deve aos olhos e seus esforços de<br />

endireitar artificialmente o mundo redondo. Sua própria forma redon<strong>da</strong><br />

mostra quanta negação de si mesmo é necessária para isso. Hoje nós<br />

sabemos que na reali<strong>da</strong>de na<strong>da</strong> neste mundo ocorre linearmente. Aquilo que<br />

em pequena escala parece ser uma reta é na reali<strong>da</strong>de uma curva, <strong>como</strong><br />

pode ser comprovado a qualquer momento pela curvatura <strong>da</strong> Terra. Até<br />

mesmo os raios de luz não vêm do Sol em linha reta, e sim em grandes<br />

espirais. Nesse entretempo ficamos sabendo também que nossos olhos<br />

podem perceber somente uma parte ínfima do espectro de on<strong>da</strong>s<br />

eletromagnéticas e, portanto, de nossa "reali<strong>da</strong>de". Nessa situação<br />

problemática, que ameaçava seu domínio ilimitado, o olho e o intelecto se<br />

associaram ain<strong>da</strong> mais estreitamente e o intelecto aparelhou o olho <strong>como</strong><br />

não o fez com nenhum outro sentido. Com recursos técnicos, ele ajudou a<br />

ampliar as limita<strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong>des do olho, com microscópios para o mundo<br />

do muito pequeno e com lunetas e telescópios para o amplo espaço do<br />

infinito. Todos os truques e meios possíveis sugerem que nossa visão não<br />

vai tão mal <strong>como</strong> os novamente sinceros olhos individuais mostram. Os<br />

óculos deixam muito claro que a maioria dos intelectuais somente pode ver o<br />

mundo através de seus próprios óculos. A função <strong>da</strong>s lentes de contato é<br />

impedir que a vertigem se torne evidente. O fato de que mais <strong>da</strong> metade <strong>da</strong><br />

população <strong>da</strong>s chama<strong>da</strong>s nações desenvolvi<strong>da</strong>s mal pode enxergar sem a<br />

aju<strong>da</strong> de meios artificiais poderia <strong>da</strong>r o que pensar. Nem mesmo os<br />

experimentos com lentes fixas permanentes podem modificar isso.<br />

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