06.05.2013 Views

A doenca como linguagem da alma.pdf

A doenca como linguagem da alma.pdf

A doenca como linguagem da alma.pdf

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

totalmente tomados pelo medo. Nesse contexto, é interessante lembrar que o<br />

estudioso de psicossomática Georg Groddeck observou um aumento <strong>da</strong><br />

incidência de epilepsia durante os anos <strong>da</strong> Primeira Guerra Mundial.<br />

Coloca-se a questão: por que essa pessoa é sacudi<strong>da</strong>, ou por que ela se<br />

sacode? Nós, por exemplo, nos sacudimos involuntariamente quando saímos<br />

<strong>da</strong> água fria, para livrar-nos do frio e <strong>da</strong> umi<strong>da</strong>de. Treme-se de medo e dessa<br />

maneira, por exemplo, tenta-se sacudir para longe de si a morte próxima ou<br />

outros perseguidores. Às vezes treme-se de horror, após ter-se vivenciado<br />

algo correspondente. Os afetados querem, evidente e inconscientemente,<br />

sacudir de si e livrar-se de algo que eles transformam em angústia e medo. A<br />

princípio eles tremem, no final eles se vêem paralisados. Estu<strong>da</strong>ndo a<br />

história <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> dos pacientes de Parkinson, tem-se a impressão de que eles<br />

querem livrar-se é <strong>da</strong> experiência de sua própria reali<strong>da</strong>de. Seus corpos<br />

inertes e seu entorno igualmente inerte parecem-lhes absolutamente<br />

importunos. Impõe-se novamente a imagem do "Presidente Mao", que uma e<br />

outra vez viu naufragar seus grandes e ousados pensamentos nas inertes<br />

massas <strong>da</strong> China.<br />

A paralisia <strong>como</strong> o oposto de ser sacudido é somente aparente. Ela faz<br />

com que o afetado se torne consciente de quão imóveis e inflexíveis eles são<br />

no fundo de suas <strong>alma</strong>s, apesar de to<strong>da</strong>s as coisas impressionantes que eles<br />

sempre se esforçaram por colocar em movimento. O corpo os força ao<br />

conhecimento de que são incapazes de a<strong>da</strong>ptar-se às transformações mais<br />

necessárias para a vi<strong>da</strong>. Quando atinge a respiração, a paralisia torna-se a<br />

causa <strong>da</strong> morte. A respiração paralisa<strong>da</strong> encarna a comunicação paralisa<strong>da</strong><br />

em um duplo sentido já que, depois <strong>da</strong> pele, os pulmões são nosso segundo<br />

órgão de comunicação. Eles são responsáveis pela admissão de energia.<br />

Tenhamos em vista o oxigênio responsável pelos processos de oxi<strong>da</strong>ção<br />

necessários para a vi<strong>da</strong> ou, segundo a concepção oriental, o prana, a energia<br />

vital: em ambos os casos a provisão de energia paralisa-se com a paralisia<br />

<strong>da</strong> respiração. O sintoma deixa claro que não há mais nenhuma energia vital<br />

entrando no corpo. A <strong>linguagem</strong> está estreitamente liga<strong>da</strong> aos pulmões <strong>como</strong><br />

órgãos de comunicação, já que ela se baseia na modulação do fluxo de ar<br />

expirado. Os problemas de <strong>linguagem</strong> que vão aumentando com a evolução<br />

<strong>da</strong> doença refletem igualmente a perturbação <strong>da</strong> comunicação. A voz não<br />

somente se toma mais fraca, mas também entrecorta<strong>da</strong>. Quando as palavras<br />

não estão mais liga<strong>da</strong>s, desconectam-se de seu conteúdo e a comunicação<br />

já não estabelece mais nenhum tipo de comuni<strong>da</strong>de.<br />

183

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!