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A doenca como linguagem da alma.pdf

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É justamente uma sorte que a motivação para a profissão de médico surja do<br />

desejo de livrar de uma vez por to<strong>da</strong>s o mundo e principalmente a si mesmo<br />

<strong>da</strong> doença. Dessa maneira, o compromisso não esmorece nem mesmo sob<br />

as condições mais difíceis.<br />

Outros padrões profissionais também exibem essa à primeira vista<br />

surpreendente união de posições opostas. Caso o criminalista não pensasse<br />

de maneira tão criminosa <strong>como</strong> o criminoso, jamais poderia apanhá-lo. Caso<br />

o missionário tivesse encontrado Deus em seu coração, não precisaria<br />

inculcá-lo em outras pessoas de maneira tão obstina<strong>da</strong>. No fundo de seu<br />

coração ele é um descrente e, ao converter os outros, tenta converter a si<br />

mesmo.<br />

No que se refere aos sintomas, as posições contrárias também se<br />

igualam. Trata-se de um único e mesmo tema, exatamente <strong>como</strong> criminalista<br />

e criminoso. As pessoas que sofrem de prisão de ventre e os pacientes com<br />

diarréia elaboram em seus intestinos a temática prender/soltar. Quando<br />

sofremos de pressão arterial alta, pacientes com pressão baixa podem nos<br />

eluci<strong>da</strong>r muita coisa a respeito de nosso próprio problema. No centro de<br />

ambos os casos está a questão de qual é o espaço ocupado pela própria<br />

energia vital.<br />

Isso se torna ain<strong>da</strong> mais evidente no tema conflitante compartilhado por<br />

alcoólicos e abstinentes 27 . Um agarra avi<strong>da</strong>mente todos os copos que vê, o<br />

outro censura todos os que o fazem. A vi<strong>da</strong> de ambos gira ao redor de um<br />

tema: o álcool. Quanto à sua saúde anímico-espiritual, o abstinente se<br />

encontra igualmente ameaçado. É ver<strong>da</strong>de que muitas vezes o alcoólico<br />

coloca a culpa de suas misérias nos outros, mas em geral ele ain<strong>da</strong> tem<br />

consciência de sua situação pouco saudável. Isso é mais difícil no que se<br />

refere ao abstinente e ao seu ambiente. Geralmente ele está mergulhado tão<br />

profun<strong>da</strong>mente na projeção, está tão convencido <strong>da</strong> culpa dos outros que<br />

não pode mais reconhecer seu próprio problema. Perdido em sublimes<br />

teorias sobre livrar a humani<strong>da</strong>de do vicio ou algo do mesmo estilo, ele não<br />

pode mais ver seu próprio extremismo.<br />

Neste último exemplo pode ficar claro que qualquer carga extrema em<br />

relação a um tema determinado é suspeita. Na maioria dos casos é<br />

justamente aí, onde menos se presume, que nos encontramos próximos do<br />

pólo oposto.<br />

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