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A doenca como linguagem da alma.pdf

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próprio, onde os outros não o podem seguir nem mesmo aos gritos. O<br />

sintoma isola e distancia do mundo e torna a pessoa solitária e fecha<strong>da</strong>.<br />

O fato de que tantos velhos lutem contra isso atesta que a orientação para<br />

o exterior, equivalente <strong>como</strong> sintoma, é tipicamente social. Novamente, são<br />

as chama<strong>da</strong>s culturas primitivas que, renunciando em grande escala a esses<br />

impedimentos típicos <strong>da</strong> velhice, mostram que aquilo que é normal para nós<br />

não é na ver<strong>da</strong>de normal e nem mesmo natural.<br />

Apesar <strong>da</strong> abundância de próteses que vão se tornando ca<strong>da</strong> vez mais<br />

refina<strong>da</strong>s, a surdez contínua sendo um sintoma que transforma muitas<br />

pessoas em outsiders. Enquanto sempre podemos fazer alguma coisa com a<br />

visão ativa, continuamos impotentes em relação à passiva audição, apesar<br />

de to<strong>da</strong> a técnica. Devido a seu grande número os velhos surdos, em seu<br />

isolamento, transformam-se em sombras <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de e, <strong>como</strong> todo o<br />

âmbito <strong>da</strong>s sombras, são vistos de mau grado. Dominar e o domínio vêm em<br />

primeiro lugar entre nós. Ouvir, escutar e obedecer levam uma existência de<br />

sombra na maioria <strong>da</strong>s pessoas modernas. Os velhos nos mostram para<br />

onde leva essa política de repressão.<br />

A otoesclerose, a calcificação dos ossículos do ouvido, expressa<br />

fisicamente a temática do não-ser-mais-fiexivel no âmbito <strong>da</strong> audição e <strong>da</strong><br />

obediência. A pessoa já está cheia (de ouvir e de obedecer), enrijece-se em<br />

relação às vibrações exteriores e se recolhe para dentro de si mesma <strong>como</strong><br />

um caramujo. Os surdos, no sentido mais profundo, já não vibram mais em<br />

conjunto. Até mesmo os cegos estão menos isolados e enrijecidos.<br />

A tarefa é realmente concentrar-se em si mesmo, reduzir os contatos com<br />

o exterior e, em vez de estar sempre ouvindo os outros, escutar para dentro e<br />

aprender a obedecer à própria voz interna. A tendência caricatura<strong>da</strong> na vi<strong>da</strong><br />

diária de somente ouvir ain<strong>da</strong> o que interessa mostra o caminho: deve-se<br />

ouvir o que é importante, substancial. Assim <strong>como</strong> as vozes externas se<br />

tornam mais baixas, as internas tornam-se agora mais níti<strong>da</strong>s. Assumir o<br />

voltar-se para dentro seria a chance oculta no sintoma.<br />

A mobili<strong>da</strong>de que diminui na velhice pode chegar à rigidez <strong>da</strong>s<br />

articulações. O organismo demonstra <strong>como</strong> está enferrujado e que falta óleo<br />

ao mecanismo. Ele quer mostrar <strong>como</strong> o movimento é difícil, que não vai<br />

muito mais para a frente na vi<strong>da</strong> e praticamente na<strong>da</strong> para cima. Então, a<br />

tarefa também é descansar exteriormente e conscientizar-se do pólo interno<br />

que descansa. Desse descanso do centro pode então voltar a crescer a<br />

mobili<strong>da</strong>de interna e, em conseqüência, também a externa.<br />

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