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A doenca como linguagem da alma.pdf

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mesmos. Há muito falando em favor de que eles, perturbados pelo “ruído"<br />

externo, não se defendem e sim incorporam, internalizam a agressão.<br />

Em vez de li<strong>da</strong>r com o stress de maneira construtiva e ir ao encontro <strong>da</strong>s<br />

exigências no exterior, eles tendem a resolver tudo internamente, sozinhos.<br />

Não é de admirar que algo aconteça internamente. Os sons no interior (<strong>como</strong><br />

todos os sintomas) devem ser entendidos <strong>como</strong> sinais que querem transmitir<br />

uma mensagem. O tipo de mensagem resulta do tipo de ruído, que<br />

geralmente contém algo de admonitório ou, pelo menos, que tenta chamar a<br />

atenção. O despertador soando quer acor<strong>da</strong>r, a sirene assustar, o uivo de<br />

uma bóia, <strong>da</strong> mesma maneira que um alarma, avisa que uma tempestade se<br />

aproxima, quem bate à porta pede entra<strong>da</strong> e atenção, apitos avisam ou<br />

emitem sinais. Tais sons podem não ser agradáveis, mas são sempre<br />

significativos. O bramido de uma tormenta, o zunido de um enxame de<br />

abelhas ou o rugido de um urso não pressagiam na<strong>da</strong> de bom, naturalmente,<br />

mas são muito úteis quando alguém os escuta, leva os avisos a sério e se<br />

comporta de maneira condizente.<br />

Os pacientes de tinnitus internalizaram a torrente de stress e agora ele<br />

soa neles a partir de dentro e avisa <strong>da</strong> proximi<strong>da</strong>de mais próxima, já que<br />

sinais mais distanciados não são escutados. O ponto <strong>da</strong> história <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> em<br />

que os avisos provenientes do interior começaram mostra quando o copo<br />

recebeu a última gota. A partir de então o silêncio interno é impossível para<br />

os pacientes, que dessa maneira aprendem a conhecer sua profun<strong>da</strong><br />

necessi<strong>da</strong>de de tranqüili<strong>da</strong>de. O silêncio interno, no entanto, somente pode<br />

surgir quando o necessário for feito externamente. Nesse ponto eles se<br />

comparam à nossa socie<strong>da</strong>de moderna, que faz com que o silêncio seja ca<strong>da</strong><br />

vez mais impossível e confronta as pessoas com ca<strong>da</strong> vez mais ruído<br />

(stress). Mas justamente assim ela desperta uma necessi<strong>da</strong>de crescente de<br />

silêncio. A poluição sonora crescente corresponde aos ruídos no ouvido ca<strong>da</strong><br />

vez mais altos, sendo que aqui os ruídos devem ser compreendidos de forma<br />

muito mais abrangente e não somente medidos em decibéis. Ain<strong>da</strong> que os<br />

doentes de tinnitus sejam também produto de uma socie<strong>da</strong>de que<br />

praticamente não conhece mais o silêncio, eles estão sendo chamados por<br />

seu sintoma a posicionar-se frente ao ruído para assim aprender a contornálo.<br />

Antes de chegar a ponto de combater o ruído alopaticamente, a tarefa em<br />

mãos seria escutá-los para saber o que têm a dizer. Na maioria <strong>da</strong>s vezes,<br />

trata-se <strong>da</strong> exigência de falar mais alto não só interna mas também<br />

externamente.<br />

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