22.06.2015 Views

digital - Comunidade Virtual de Antropologia

digital - Comunidade Virtual de Antropologia

digital - Comunidade Virtual de Antropologia

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Esse obscuro objeto da pesquisa<br />

muito do que se diz a seu respeito se <strong>de</strong>ve a leituras <strong>de</strong> segunda,<br />

terceira ou quarta mão. Isso nos leva ao item seguinte.<br />

Citações em cascata<br />

A citação <strong>de</strong> segunda mão (aquela que costuma ser marcada por<br />

um apud), às vezes <strong>de</strong>ve-se à impossibilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>sculpável em casos<br />

isolados, <strong>de</strong> ace<strong>de</strong>r à fonte original. É claro que <strong>de</strong>ve se tratar <strong>de</strong> uma<br />

exceção: a multiplicação das citações <strong>de</strong> segunda mão põe sob suspeita<br />

a pesquisa, que não ace<strong>de</strong>u às fontes originais.<br />

Mas po<strong>de</strong> chegar a ser algo bastante pior -uma regra miserável do<br />

capitalismo intelectual- quando esse apud é um apud dissimulado. A<br />

citação <strong>de</strong> segunda mão, especialmente se não <strong>de</strong>clarada, possibilita<br />

que um autor seja citado mais uma vez simplesmente porque já foi<br />

anteriormente citado; eventualmente essa prática produz um efeito em<br />

cascata reforçando autorida<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>veriam se fundar em outros<br />

alicerces, ou multiplicando com juros um capital intelectual cujo valor<br />

<strong>de</strong> uso não é <strong>de</strong> fato posto à prova. As ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> citações tem ainda o<br />

inconveniente <strong>de</strong> serem capazes <strong>de</strong> esten<strong>de</strong>r até ao infinito imprecisões<br />

ou erros crassos -<strong>de</strong> grafia ou <strong>de</strong> leitura- produzidos em algum ponto<br />

<strong>de</strong>ssa ca<strong>de</strong>ia.<br />

A citação e a não cumulativida<strong>de</strong>.<br />

Há uma outra questão que introduz mais uma área <strong>de</strong> sombra na<br />

citação, a saber a não-cumulativida<strong>de</strong> das ciências humanas. Como<br />

bem sabemos, nas ciências naturais as noções científicas estão em<br />

vigor até que são <strong>de</strong>vidamente falseadas, sendo então <strong>de</strong>vidamente<br />

transferidas para uma outra biblioteca, que a rigor não é mais <strong>de</strong><br />

medicina, <strong>de</strong> astronomia ou <strong>de</strong> física, mas <strong>de</strong> história da medicina, da<br />

astronomia ou da física. Muito haveria que conversar a esse respeito,<br />

mas o que fica fora <strong>de</strong> dúvida é o contraste com o universo das ciências<br />

humanas, on<strong>de</strong> Aristóteles (olha que ele é mais antigo que Ptolomeu)<br />

ainda está na biblioteca da filosofia ou da antropologia, e não numa<br />

biblioteca aparte. Numa ciência não cumulativa, as autorida<strong>de</strong>s se<br />

acumulam até o marasmo.<br />

Isso torna muito incertos os limites do que <strong>de</strong>ve ser citado. Como<br />

dissemos antes, a citação <strong>de</strong>ve fazer constar no texto a ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

informações que o leva à primeira fonte <strong>de</strong> uma informação, e nesse<br />

caso é indiscutível a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> chegar nessa primeira fonte. Mas<br />

também –e é isso que nos interessa agora- à formulação original <strong>de</strong><br />

um conceito ou <strong>de</strong> uma teoria. Mas isso, no nosso caso, é<br />

potencialmente interminável. Atrás <strong>de</strong> cada autor há um outro autor e<br />

<strong>de</strong>trás <strong>de</strong>sse mais um, habitualmente remontando no fim a algum<br />

grego antigo. Conceitos novos são, a pouco que se busque, variações <strong>de</strong><br />

conceitos anteriores; teorias surgem <strong>de</strong> teorias, argumentos <strong>de</strong><br />

argumentos.<br />

O que o pesquisador <strong>de</strong>ve fazer a esse respeito não oferece muitas<br />

dúvidas: ele <strong>de</strong>ve citar, <strong>de</strong>ntre esse cúmulo difícil <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir, aquilo em<br />

que ele efetivamente se baseou. Da qualida<strong>de</strong> da sua formação<br />

103

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!