digital - Comunidade Virtual de Antropologia
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Oscar Calavia Sáez<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> que suas fontes <strong>de</strong> inspiração sejam bem escolhidas e que, por<br />
exemplo, suas referencias a um clássico procedam mesmo do original<br />
e não <strong>de</strong> um comentador, o do comentador <strong>de</strong> um comentador.<br />
Maquiar um uso <strong>de</strong> fontes secundárias sob a citação <strong>de</strong> originais que<br />
não foram tocados é uma má pratica que se <strong>de</strong>ixa surpreen<strong>de</strong>r com<br />
freqüência, e que nada tem <strong>de</strong> necessária. Se eu estiver fazendo a<br />
história do conceito <strong>de</strong> estrutura na antropologia, é claro que <strong>de</strong>verei<br />
recorrer aos escritos <strong>de</strong> Levi-Strauss e <strong>de</strong> Radcliffe Brown, ou <strong>de</strong><br />
autores em que eles mesmos tenham se baseado. Se eu estiver usando<br />
na minha argumentação a noção <strong>de</strong> estrutura <strong>de</strong> qualquer um <strong>de</strong>les,<br />
nada impe<strong>de</strong> que o faça corretamente me baseando no trabalho <strong>de</strong><br />
algum bom comentador: afinal, os conceitos são usados para dar<br />
or<strong>de</strong>m a uma pesquisa, não para ser reverenciados como tais, e a<br />
qualida<strong>de</strong> da pesquisa <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá do uso que eu dê ao conceito, e não<br />
da fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> ao contexto inicial em que ele surgiu.<br />
Mas se o que o pesquisador <strong>de</strong>ve fazer está claro, é claro também<br />
que os juízos externos da sua pratica po<strong>de</strong>rão variar. Há modos <strong>de</strong><br />
encarar a pesquisa em ciências humanas que sublinham o peso da<br />
tradição: para eles, no limite, é praticamente impossível dizer nada<br />
novo, cada teoria que se oferece como novida<strong>de</strong> é um plágio discreto<br />
ou <strong>de</strong>scarado <strong>de</strong> idéias antigas, a erudição disciplinar é quase que a<br />
única atitu<strong>de</strong> honesta e qualquer texto <strong>de</strong>ve carregar um peso<br />
abrumador <strong>de</strong> referencias. Há outros que reivindicam a originalida<strong>de</strong><br />
como um atributo pessoal e praticamente arrastam trás <strong>de</strong> si uma<br />
barra que marca o início da disciplina: todo que fica atrás <strong>de</strong>la são<br />
apenas precursores, e as citações são uma moléstia dispensável. Uma<br />
mínima noção da história da reflexão humana reduz a um absurdo<br />
comum ambos extremos, e dita que o ponto em que se coloca a<br />
origem das teorias e dos conceitos será sempre uma convenção. Na<br />
maior parte dos casos, na verda<strong>de</strong>, essa convenção costuma obe<strong>de</strong>cer à<br />
re<strong>de</strong> dos mestres e colegas ainda em ativida<strong>de</strong> com a inclusão <strong>de</strong><br />
alguns pre<strong>de</strong>cessores <strong>de</strong> cuja memória eles têm a custódia.<br />
É saudável para a ciência em geral que o pesquisador seja<br />
consciente <strong>de</strong> que o cúmulo do saber teórico é praticamente<br />
inabarcável e dificilmente <strong>de</strong>ixa espaço para nada radicalmente novo,<br />
mas também <strong>de</strong> que a memória disciplinar é limitada, e portanto o<br />
reavivamento cíclico <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas teorias ou conceitos faz parte do<br />
que na antropologia po<strong>de</strong> ser honestamente chamado <strong>de</strong> originalida<strong>de</strong>.<br />
Citações e epígrafes<br />
A citação <strong>de</strong>ve ser diferenciada da epígrafe, essa frase pinçada na<br />
fala <strong>de</strong> um nativo, nos versos <strong>de</strong> um poeta ou nas páginas <strong>de</strong> um<br />
jornal, que enfeita o <strong>de</strong>sabrochar <strong>de</strong> um texto, ou dos seus capítulos. A<br />
epígrafe não se vê afetada pelas regras da citação: não é preciso em<br />
geral fazer constar página, edição ou local <strong>de</strong> edição. Uma epígrafe não<br />
é uma fonte, é um eco, um indicio <strong>de</strong> que o que é pensado no contexto<br />
da tese foi pensado também, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente, em outro contexto<br />
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