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digital - Comunidade Virtual de Antropologia

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Oscar Calavia Sáez<br />

parte menos comentada do famoso binômio <strong>de</strong> Levi-Strauss, se<br />

empenham em celebrar mudanças radicais a cada semestre. A<br />

pesquisa em sentido estrito costuma ser uma ativida<strong>de</strong> mais ou menos<br />

excepcional, e seria surpreen<strong>de</strong>nte que todos os docentes da<br />

universida<strong>de</strong> a produzissem regularmente semestre após semestre.<br />

Como essa improbabilida<strong>de</strong> se tornou obrigatória, é possível que o<br />

pesquisador se veja obrigado a cumprir o requisito com sucedâneos<br />

mais ou menos dignos, mas é preferível que não se engane a si mesmo<br />

com isso.<br />

Uma tese não é um livro<br />

Um bom livro é mais difícil <strong>de</strong> escrever, e mais agradável <strong>de</strong> ler,<br />

que uma boa tese sobre o mesmo tema. A tese é um gênero literário<br />

cujas convenções ajudam a localizar a informação e a avaliar os<br />

resultados. Afinal, ela é em primeiro lugar escrita para uma banca, que<br />

lê por obrigação, em pouco tempo e com o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> comentar e<br />

avaliar.<br />

Aparte do aparato bibliográfico, <strong>de</strong> anexos, <strong>de</strong> notas, <strong>de</strong> revisões<br />

teóricas, que num livro po<strong>de</strong> aparecer simplificado ou não aparecer, a<br />

tese po<strong>de</strong> se permitir um nível <strong>de</strong> redundância que num livro seria<br />

enfadonho mas que costuma ser útil numa tese. As teses britânicas<br />

costumam ser mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> redundância: no início da tese<br />

expõem-se os temas e os argumentos que vão ser apresentados, e do<br />

mesmo modo se faz no início <strong>de</strong> cada capítulo. Cada capítulo conclui<br />

com um resumo do que foi exposto, e a tese conclui resumindo o<br />

conjunto, e explicitando mais uma vez seus principais frutos. A cada<br />

momento remete-se ao que já foi dito ou ao que será dito mais adiante.<br />

Tudo isso po<strong>de</strong> ser um tanto enfadonho quando a tese é lida com o<br />

mesmo espírito com que se lê um livro. Mas po<strong>de</strong> ser muito <strong>de</strong><br />

agra<strong>de</strong>cer quando a tese se lê como uma tese.<br />

Via <strong>de</strong> regra, o livro convida a uma leitura integral; a tese <strong>de</strong>veria<br />

ser suscetível <strong>de</strong> leitura seletiva, já que a maior parte do seu público<br />

consiste em especialistas à procura daqueles trechos em que o autor<br />

apresenta dados ou juízos novos, <strong>de</strong>slizando rapidamente sobre todos<br />

aqueles contextos necessários apenas para o leigo, que na tese são<br />

anotados para provar que o autor não é mais um leigo, e que ocupam a<br />

maior parte <strong>de</strong> suas páginas. É o motivo <strong>de</strong> que em muitas áreas<br />

científicas se consi<strong>de</strong>re o livro um produto menor, quase que<br />

necessariamente divulgativo.<br />

Algumas tradições acadêmicas –acabamos <strong>de</strong> citar as britânicas -<br />

impõem com mais rigor esse formato convencional com resumos <strong>de</strong><br />

cada um dos capítulos, recapitulações, conclusões. Em outros casos –no<br />

Brasil, por exemplo-, não há um compromisso evi<strong>de</strong>nte com o formatotese,<br />

que inclusive po<strong>de</strong> ser menosprezado em prol <strong>de</strong> formas literárias<br />

mais ágeis.<br />

Mas essa opção não é sempre benéfica: com freqüência da lugar a<br />

híbridos que não se sustentam como livros e são confusos como teses.<br />

O formato tese é um recurso pru<strong>de</strong>nte para autores que não<br />

necessariamente reúnem as habilida<strong>de</strong>s literárias que se requerem<br />

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