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digital - Comunidade Virtual de Antropologia

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Esse obscuro objeto da pesquisa<br />

Teoria. Modos <strong>de</strong> classificação e <strong>de</strong> uso.<br />

O mais comum na hora <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir a teoria é dizer que ela é um tipo<br />

<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo. Há, é claro, mo<strong>de</strong>los que não são teorias: são aqueles<br />

pensados apenas para ilustrar o para servir <strong>de</strong> referente à imitação. O<br />

mo<strong>de</strong>lo-teoria tem a peculiarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser transformável e sistêmico:<br />

po<strong>de</strong>mos alterar alguma <strong>de</strong> suas características, alterando<br />

correlativamente o resto, e gerando uma nova versão do mo<strong>de</strong>lo. O<br />

mo<strong>de</strong>lo-teoria é –é importante que se diga- uma construção<br />

imaginaria, não uma proprieda<strong>de</strong> do real; seu interesse resi<strong>de</strong> nisso<br />

precisamente.<br />

O mo<strong>de</strong>lo-teoria po<strong>de</strong> assumir muitas formas: uma fórmula, um<br />

conjunto <strong>de</strong> regras, ou um relato –no caso da antropologia, é quase<br />

sempre um relato. Em qualquer caso, há uma ratio <strong>de</strong> economia entre<br />

essa teoria e a <strong>de</strong>scrição à qual se refere: a teoria <strong>de</strong>ve ser muito mais<br />

enxuta que a <strong>de</strong>scrição. É, ela mesma, uma <strong>de</strong>scrição: mas uma<br />

<strong>de</strong>scrição limitada aos seus termos fundamentais, que são<br />

simplesmente aqueles cujo caráter sistêmico (ou seja, sua necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> variar em resposta às alterações <strong>de</strong> qualquer um dos seus termos)<br />

somos capazes <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver. Esse mo<strong>de</strong>lo ao mesmo tempo organiza a<br />

nossa <strong>de</strong>scrição e po<strong>de</strong> ser abstraído <strong>de</strong>la.<br />

Há, é claro, teorias <strong>de</strong> alcance muito diverso. Um autor po<strong>de</strong><br />

elaborar um relato da prática e a doutrina do parentesco numa al<strong>de</strong>ia<br />

Tallensi, que sintetize a <strong>de</strong>scrição que fez <strong>de</strong>ssa pratica e <strong>de</strong>ssa<br />

doutrina, e isso será a sua teoria. Outro, ou ele mesmo, po<strong>de</strong> se referir<br />

em conjunto aos sistemas patrilineares africanos, com uma teoria mais<br />

abrangente. Outro po<strong>de</strong> se referir a todos os sistemas <strong>de</strong> <strong>de</strong>scendência<br />

unilinear. Outro, enfim, tentará abranger todos os sistemas, lineares ou<br />

não, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> teoria do parentesco. Quanto maior o<br />

alcance <strong>de</strong> uma teoria, maior e mais heterogêneo será o volume <strong>de</strong><br />

dados que a teoria terá que organizar, mas isso não altera em si a<br />

forma da teoria: <strong>de</strong>verá ser mais abstrata, não por isso terá que conter<br />

mais palavras ou mais fórmulas. As Gran<strong>de</strong>s Teorias Unificadas não<br />

<strong>de</strong>vem expressar-se em mais palavras ou mais fórmulas que as<br />

pequenas teorias <strong>de</strong> alcance local.<br />

É claro que o que estou oferecendo aqui é uma versão mínima do<br />

que habitualmente se enten<strong>de</strong> como teoria científica. Uma <strong>de</strong>finição<br />

mais convencional nos apresentaria a teoria científica como a soma <strong>de</strong><br />

uma série <strong>de</strong> dados estabelecidos empiricamente, mais uma série <strong>de</strong><br />

regularida<strong>de</strong>s observadas nas relações entre esses dados, mais um<br />

esquema que explicite <strong>de</strong> modo sistemático essas relações,<br />

eventualmente enunciando umas quantas leis, ou correlações fixas<br />

entre os elementos da teoria. Poucas vezes, se alguma, os trabalhos dos<br />

antropólogos chegam a esse ponto final, mas isso não significa que<br />

eles estejam isentos <strong>de</strong> teoria. Como disse antes falando a respeito da<br />

ciência em geral, acho preferível ficar com uma acepção minimalista<br />

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