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digital - Comunidade Virtual de Antropologia

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Esse obscuro objeto da pesquisa<br />

discursos elaborados a seu respeito. Um mo<strong>de</strong>lo que não<br />

necessariamente <strong>de</strong>ve ter o aspecto <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo matemático ou<br />

arquitetônico, mas que em qualquer caso <strong>de</strong>verá ter algumas<br />

proprieda<strong>de</strong>s dos mo<strong>de</strong>los, especialmente o seu teor sistêmico. É na<br />

teoria que se encontra em último termo, a contribuição <strong>de</strong> uma<br />

pesquisa, seja porque confirme teorias anteriormente avançadas seja,<br />

preferentemente, porque as modifica <strong>de</strong> um modo mais ou menos<br />

amplo. É a teoria o que se tenta transformar mediante a pesquisa, é a<br />

teoria o que se discute e se divulga. As etimologias <strong>de</strong> teoria –várias<br />

foram propostas- diferem entre si, mas têm algo em comum: remetem<br />

à visão. A minha preferida é a que alu<strong>de</strong> a <strong>de</strong>sfile ou procissão –que,<br />

afinal, é um modo <strong>de</strong> alinhar uma série <strong>de</strong> elementos, fazendo-os<br />

visíveis no seu conjunto. Se essa imagem parece <strong>de</strong>masiado pobre, e<br />

sobretudo <strong>de</strong>masiado linear, e é porque nenhum <strong>de</strong> nós organizou<br />

<strong>de</strong>sfiles e não percebemos o quanto custa organizar um <strong>de</strong>sfile: <strong>de</strong>cidir<br />

quem <strong>de</strong>ve aparecer nele e quem <strong>de</strong>ve estar entre o publico, e quem<br />

longe <strong>de</strong> um e <strong>de</strong> outro; em quê or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>vem <strong>de</strong>sfilar os elementos,<br />

encontrar um lugar suficientemente gran<strong>de</strong> para que todos eles se<br />

concentrem, ou pelo menos possam se situar na or<strong>de</strong>m necessária,<br />

<strong>de</strong>finir um ritmo justo para que não haja vazios nem atropelamentos,<br />

encontrar um modo <strong>de</strong> que o <strong>de</strong>sfile se disperse elegantemente no<br />

final, etc.<br />

Guardar as diferenças<br />

Em soma, teoria, método e técnica remetem a aspectos da pesquisa<br />

tão diferentes entre si como o seriam o volume, o movimento e a cor<br />

<strong>de</strong> um corpo. Separá-los é possível somente numa reflexão preliminar;<br />

articula-los é necessário durante a pesquisa; confundi-los não é nunca<br />

recomendável.<br />

Mas é muito freqüente confundi-los. Assim acontece quando<br />

enten<strong>de</strong>mos o método como uma técnica, ou viceversa. De posse <strong>de</strong><br />

alguma engenhoca material ou intelectual capaz <strong>de</strong> produzir efeitos<br />

surpreen<strong>de</strong>ntes, é muito fácil que pensemos estar agindo com método.<br />

É o que acontece com freqüência com instrumentais <strong>de</strong> análise <strong>de</strong><br />

textos, ou com softwares para análise estatístico, ou com câmeras <strong>de</strong><br />

ví<strong>de</strong>o. Isso são recursos técnicos que não constituem per se um método<br />

–outra coisa é que eles venham <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um pacote que inclui<br />

também um método. Não existem coisas tais como um método visual<br />

per se, ou um método hermeneutico per se. Se o método é uma <strong>de</strong>cisão<br />

ética é porque impe<strong>de</strong> usar indiscriminadamente todos os recursos <strong>de</strong><br />

uma técnica-arte, e também porque essa <strong>de</strong>cisão não nos é poupada<br />

pelo uso <strong>de</strong> uma técnica-técnica: não há método lá on<strong>de</strong> os caminhos<br />

são pre<strong>de</strong>terminados.<br />

Ou quando confundimos uma teoria com um método. É o que tem<br />

acontecido com todas as gran<strong>de</strong>s escolas: o funcionalismo, o<br />

culturalismo ou o marxismo reúnem autores em torno <strong>de</strong> constantes<br />

que são preferentemente teóricas –sobretudo, em torno <strong>de</strong> um léxico<br />

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