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Oscar Calavia Sáez<br />
A ética na pesquisa<br />
O tema da ética na pesquisa não será <strong>de</strong>senvolvido neste breve<br />
tratado porque seria necessário para isso pelo menos outro volume<br />
equivalente. E a ética na pesquisa tem recebido uma notável atenção<br />
da parte dos antropólogos nos últimos <strong>de</strong>cênios, que não terá passado<br />
<strong>de</strong>sapercebida a nenhum estudante. Suas manifestações vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
códigos formais <strong>de</strong> conduta –a ABA tem um- a consultórios casuísticos<br />
sobre as situações mais variadas que um pesquisador possa encontrar<br />
antes, durante e <strong>de</strong>pois do campo –a AAA mantinha um, tempos atrás,<br />
e é possível que ele ainda exista- passando por livros, capítulos, artigos<br />
e seminários <strong>de</strong>dicados ao tema. Não vou tentar resumir aqui os seus<br />
argumentos, dificilmente resumíveis.<br />
É obvio que falar <strong>de</strong> método, projeto, pesquisa, etc. não seria<br />
possível sem uma reflexão ética acompanhando, e consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong><br />
caráter ético estão presentes (espero que o leitor o perceba) no que aqui<br />
se diz a respeito <strong>de</strong> método, <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> campo, <strong>de</strong> entrevista, <strong>de</strong><br />
sujeito, <strong>de</strong> citação.<br />
Mas mesmo assim quiçá seja recomendável dizer alguma coisa a<br />
respeito da relação entre essa reflexão ética e outras reflexões e<br />
circunstâncias pertinentes na situação <strong>de</strong> pesquisa. A isso se <strong>de</strong>dica<br />
este breve capítulo, que não entrará no <strong>de</strong>talhe dos dilemas e as<br />
tentações com que o pesquisador se cruza na sua ativida<strong>de</strong>, mas fará<br />
algumas consi<strong>de</strong>rações gerais sobre como a ética se situa na formação<br />
dos pesquisadores e na gestão universitária <strong>de</strong> pesquisa. Seguindo um<br />
mo<strong>de</strong>lo muito arcaico da literatura moral, assumirá a forma <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>cálogo ou quase-<strong>de</strong>cálogo, composto por quase-mandamentos.<br />
1. O senso comum diz que falar e conduzir-se eticamente são<br />
duas coisas diferentes, e que quem faz muito uma <strong>de</strong>las<br />
costuma não ter tempo nem forças para a outra. Não se<br />
<strong>de</strong>scobriu ainda nenhuma razão que isente os pesquisadores<br />
<strong>de</strong>sse juízo.<br />
2. A ética trata fundamentalmente, salvo erro meu, <strong>de</strong> condutas<br />
(algo que se faz); e acessoriamente <strong>de</strong> propósitos (algo que se<br />
diz). Que as comissões <strong>de</strong> ética das universida<strong>de</strong>s tenham se<br />
instaurado para julgar projetos é indício <strong>de</strong> que há mais<br />
interesse na fala que na conduta ética, o que nos <strong>de</strong>volve ao<br />
ponto 1.<br />
3. Escolher entre o Mahatma Gandhi e Adolf Hitler não é um<br />
bom exemplo <strong>de</strong> dilema ético. O pesquisador <strong>de</strong>veria<br />
<strong>de</strong>sconfiar daqueles discursos sobre a ética na pesquisa que<br />
apenas reiteram –para fulmina-los- exemplos do que as<br />
ciências têm perpetrado <strong>de</strong> mais canalha. Uma reflexão sobre<br />
a ética <strong>de</strong>ve dar conta <strong>de</strong> questões muitíssimo mais equivocas,<br />
que são as que normalmente o pesquisador enfrenta.<br />
4. A valida<strong>de</strong> científica <strong>de</strong> uma pesquisa já é, em si, um requisito<br />
<strong>de</strong> tipo ético, que inclui o respeito <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> regras<br />
aceitas. Uma pesquisa cientificamente inválida apesar da sua<br />
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