digital - Comunidade Virtual de Antropologia
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Esse obscuro objeto da pesquisa<br />
imprescindíveis. Não seria muito sensato acabar nossa <strong>de</strong>scrição<br />
analisando a situação legal do aborto no Brasil, que motiva a sua<br />
militância: esse tema <strong>de</strong>ve talvez aparecer, mas bem no início do texto.<br />
Mas é claro que a maior <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> correspon<strong>de</strong> ao contraste entre a<br />
a<strong>de</strong>são à fé católica e a militância pró-aborto, ou às eventuais<br />
diferenças entre as noções <strong>de</strong> corpo <strong>de</strong>ssas mulheres e as que vigoram<br />
nessa religião; é esse o núcleo da pesquisa e é a seu <strong>de</strong>svendamento<br />
que toda a exposição <strong>de</strong>ve conduzir.<br />
O relato etnográfico <strong>de</strong>ve, em geral, seguir um crescendo <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> na <strong>de</strong>scrição. I<strong>de</strong>almente, essa <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> chega à sua<br />
culminação no momento em que ela altera <strong>de</strong> modo visível aquela<br />
primeira <strong>de</strong>scrição do nosso tema da qual partimos, no projeto e na<br />
introdução da tese. É essa a hora <strong>de</strong> acabar, retomando o primeiro<br />
retrato e comparando o antes e o <strong>de</strong>pois da nossa <strong>de</strong>scrição.<br />
No meio<br />
O português é uma língua latina bem preparada para articular<br />
subordinadas, <strong>de</strong> modo que não há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que o texto esteja<br />
formado por frases telegráficas para ser compreensível. No entanto,<br />
como regra, é bom que o autor ponha um ponto e comece uma nova<br />
frase quando a estruturação <strong>de</strong> um enunciado comece a ficar penosa<br />
para ele: será também penosa para o leitor. O mesmo po<strong>de</strong> ser dito da<br />
organização geral do texto. Não é recomendável, a não ser que<br />
disponhamos <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>streza literária notável, escrever capítulos<br />
corridos <strong>de</strong> <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> páginas. Uma divisão do texto em porções<br />
menores (a medida é variável, mas menos <strong>de</strong> uma página já é quase<br />
aforismo, mais <strong>de</strong> cinco é perigosamente proustiano) ajuda não só à<br />
compreensão do texto mas também à sua escrita. Esses trechos<br />
menores, que não precisam ser numerados, <strong>de</strong>vem estar agrupados em<br />
capítulos, esses sim numerados <strong>de</strong> modo corrido através das partes em<br />
que eles, eventualmente, se agrupem. Para ser útil, a distribuição <strong>de</strong><br />
uma obra <strong>de</strong>ve seguir um esquema mais ou menos piramidal: não<br />
mais <strong>de</strong> três ou quatro partes, cada uma <strong>de</strong>las com não mais <strong>de</strong> quatro<br />
ou cinco capítulos, divididos por sua vez em subcapítulos se o conjunto<br />
for muito extenso, do mesmo modo que, nesse mesmo caso, as partes<br />
po<strong>de</strong>riam estar agrupadas em volumes ou tomos. Em geral, se<br />
recomenda que as teses não alcancem tais dimensões. Quando falo em<br />
pirâmi<strong>de</strong>, me refiro a uma estrutura em que a progressão das partes às<br />
sub-partes seja lenta e regular: não é muito harmônica, por exemplo,<br />
uma estrutura <strong>de</strong> duas partes uma <strong>de</strong>las com vinte capítulos e outra<br />
com oito. É importante, também, que a extensão das partes, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />
cada nível, seja aproximadamente equivalente.<br />
Uma boa divisão do texto po<strong>de</strong> parecer uma recomendação apenas<br />
cosmética, mas normalmente garante muitas outras coisas. Por um<br />
lado, aumenta consi<strong>de</strong>ravelmente a transparência da tese, permitindo –<br />
ao leitor e ao autor- ter uma idéia sintética <strong>de</strong> sua estrutura, o que<br />
acontecerá, sobretudo, se os títulos dos segmentos forem acertados.<br />
Mas por outro, e sobretudo, uma boa divisão ajuda a estabelecer coesão<br />
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