digital - Comunidade Virtual de Antropologia
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Esse obscuro objeto da pesquisa<br />
Ogotemmeli –nem sequer no caso hipotético <strong>de</strong> que fossemos nativos<br />
<strong>de</strong>ssa tribo- mas à cosmologia <strong>de</strong> Ogotemmeli, que eventualmente<br />
rotulamos como cosmologia <strong>de</strong> sua tribo: isso <strong>de</strong>ve ficar claro. No<br />
entanto, uma convenção principal da antropologia exige que o valor<br />
do nosso interlocutor não seja medido apenas pelo seu domínio da<br />
mensagem que nos transmite. Como o diplomático, que tenta<br />
conseguir todo o que po<strong>de</strong> do seu interlocutor, mas <strong>de</strong>ve ter a garantia<br />
<strong>de</strong> que ele continue sendo representativo do seu bando ou mantenha a<br />
suficiente autorida<strong>de</strong> sobre ele, nós estamos interessados na<br />
informação e até na invenção do nosso interlocutor, mas na medida<br />
em que elas, por assim dizer, lhe <strong>de</strong>sbor<strong>de</strong>m; ou seja, na medida em<br />
que ele continue se vendo como representante <strong>de</strong> algo, malgrado a sua<br />
capacida<strong>de</strong> autoral.<br />
Em outras palavras, e saindo <strong>de</strong> uma alegoria que já se prolongou<br />
muito, é <strong>de</strong>sejável que a noção <strong>de</strong> diálogo não conduza, no caso da<br />
antropologia, a uma espécie <strong>de</strong> mínimo comum <strong>de</strong>nominador<br />
universal, feito das percepções e dos critérios morais em voga.<br />
Abundam os exemplos <strong>de</strong>ssa etnografia nações-unidas. Po<strong>de</strong>m se<br />
encontrar muitos argumentos em favor <strong>de</strong>sse saber negociado ou<br />
consensuado, mas para aceita-los com todo o valor que se atribuem<br />
<strong>de</strong>veríamos seguir pensando que o diálogo é um processo tão isento e<br />
angélico como a doutrina contemporânea ten<strong>de</strong> a fazer crer.<br />
Antropólogo vs nativo: exercício pratico.<br />
Não po<strong>de</strong> se dizer que o treinamento profissional dos etnógrafos<br />
brilhe por sua criativida<strong>de</strong>. Diga-se <strong>de</strong> passagem, não é seguro que a<br />
criativida<strong>de</strong> seja constantemente uma virtu<strong>de</strong>, às vezes criativida<strong>de</strong>s<br />
muito irrequietas po<strong>de</strong>m complicar muito a vida dos outros e tira-lhes<br />
o tempo para exercer a sua. Mas enfim, esse treinamento<br />
habitualmente se reduz à leitura e comentário <strong>de</strong> textos, à escuta e<br />
comentário <strong>de</strong> aulas. Em alguns casos, sobretudo no ensino <strong>de</strong><br />
graduação -on<strong>de</strong> po<strong>de</strong> aparecer o prurido <strong>de</strong> realizar algumas aulas<br />
praticas-, po<strong>de</strong>m se dar pequenos ensaios <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> campo,<br />
promovendo visitas coletivas ou dispersas a lugares on<strong>de</strong> algo po<strong>de</strong> ser<br />
observado. Por motivos óbvios, esse algo costuma ter alguma forma já<br />
consagrada na literatura: uma al<strong>de</strong>ia indígena; uma pequena<br />
comunida<strong>de</strong>, urbana ou rural; um mercado, uma festa popular... É<br />
claro que a experiência po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> utilida<strong>de</strong>, sobretudo<br />
quando se leva até o final e inclui um ensaio <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrição etnográfica.<br />
É claro, também, que <strong>de</strong>ve se fazer com mesura: uma pesquisa “<strong>de</strong><br />
ensaio” po<strong>de</strong> suscitar os mesmos problemas que uma pesquisa para<br />
valer, e trinta ou quarenta pesquisadores <strong>de</strong>spejados ao uníssono numa<br />
pequena comunida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m suscitar <strong>de</strong> fato problemas maiores.<br />
Embora possa facilitar a comparação entre experiências e <strong>de</strong>scrições, a<br />
ativida<strong>de</strong> em grupo tem o inconveniente <strong>de</strong> se <strong>de</strong>sviar <strong>de</strong>masiado da<br />
prática habitual, que continua centrada na pesquisa individual.<br />
Mas em qualquer caso, o que esse tipo <strong>de</strong> aula prática traz aos<br />
estudantes é uma amplificação <strong>de</strong> algumas habilida<strong>de</strong>s que cada um<br />
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