digital - Comunidade Virtual de Antropologia
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Oscar Calavia Sáez<br />
as vantagens e as limitações <strong>de</strong>ste método ou aquele, uma comparação<br />
entre os seus rigores e os seus rendimentos. Se a reflexão metodológica<br />
levasse in<strong>de</strong>fectivelmente a um método único e indiscutível ainda teria<br />
algum sentido chamar “metodologia” a um capítulo on<strong>de</strong> explicamos<br />
como vamos a realizar a pesquisa. Mas parece evi<strong>de</strong>nte que não existe<br />
tal unanimida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> modo que a metodologia é uma reflexão<br />
complexa, longa e que po<strong>de</strong> levar a conclusões muito diferentes.<br />
Isto é, a reflexão metodológica é parte dos preliminares do projeto,<br />
não do projeto. O pesquisador <strong>de</strong>ve se ocupar durante a sua formação<br />
<strong>de</strong> refletir sobre todas essas alternativas que a metodologia lhe<br />
apresenta. Mas se ele senta, finalmente, para redigir o seu projeto é<br />
porque, entre outras coisas, já chegou a algumas conclusões pessoais a<br />
esse respeito, e optou por um método, ou seja, <strong>de</strong>cidiu proce<strong>de</strong>r <strong>de</strong> tal<br />
modo para investigar seu objeto.<br />
Mas não é que, <strong>de</strong> fato, há muitos projetos, aparentemente muito<br />
bons, on<strong>de</strong> se leva adiante uma discussão metodológica? Bom, po<strong>de</strong>ria<br />
acontecer que essa discussão metodológica fosse intrínseca ao objeto.<br />
Por exemplo, o pesquisador po<strong>de</strong> supor que alguma das nossas idéias a<br />
respeito do campo religioso brasileiro se <strong>de</strong>vam a que nunca se<br />
levaram em consi<strong>de</strong>ração dimensões quantitativas, os números e a<br />
estatística das igrejas: incorporar a estatística po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>cisivo para<br />
mudar algumas idéias aceitas. Nesse caso, é claro, discussões<br />
metodológicas estão a fazer parte do projeto. Mas, olhe-se bem, esse<br />
tipo <strong>de</strong> discussões tem seu lugar na própria justificativa, NÃO num<br />
capítulo especial chamado “metodologia”. Mesmo que um projeto<br />
inclua <strong>de</strong>ntro da sua justificativa longas reflexões sobre métodos, o<br />
capítulo ao que estamos nos referindo <strong>de</strong>ve se titular apenas método, e<br />
<strong>de</strong>ve especificar sucintamente o proce<strong>de</strong>r que o pesquisador <strong>de</strong>cidiu<br />
adotar <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tantas reflexões metodológicas.<br />
Deve ser breve: afinal, trata das condições <strong>de</strong> pesquisa autoimpostas,<br />
que <strong>de</strong>vem ser respeitadas, e como acontece com todas as<br />
normas, não po<strong>de</strong>m ser superabundantes se queremos que esse<br />
respeito seja viável. A isso ajuda que, no caso da antropologia, o<br />
método constará, via <strong>de</strong> regra, <strong>de</strong> afirmações bastante simples: quais<br />
são as fontes que a pesquisa buscará, como o projeto preten<strong>de</strong> chegar a<br />
elas, que importância relativa se dará a cada uma <strong>de</strong>las, etc. O método,<br />
como já foi dito, é escolhido, e por isso não po<strong>de</strong> ser uma lista informe<br />
<strong>de</strong> recursos. Mesmo que o pesquisador pretenda experimentar todos os<br />
caminhos possíveis, da observação participante à análise <strong>de</strong> mitos já<br />
publicados passando pelo registro visual, as entrevistas abertas,<br />
estruturadas e semi-estruturadas e os levantamentos estatísticos (digase<br />
<strong>de</strong> passagem, é pru<strong>de</strong>nte não se dispersar tanto) <strong>de</strong>verá ainda dizer<br />
qual é a hierarquia em que or<strong>de</strong>na todos esses procedimentos, e como<br />
articulará uns com os outros.<br />
Mas não mais do que isso. As razões pelas que escolheu um método<br />
ou outro, se tem uma especial relevância para ele, já <strong>de</strong>vem ter sido<br />
expostas antes.<br />
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