digital - Comunidade Virtual de Antropologia
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Oscar Calavia Sáez<br />
que passam a tratar seus objetos como problemas, limitando-se a essa<br />
dimensão que foi usada para circunscreve-los. Isso <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> muitos<br />
fatores –principalmente da sorte e da percepção do pesquisador- e será<br />
difícil que as aca<strong>de</strong>mias correspon<strong>de</strong>ntes prestem <strong>de</strong>masiada atenção a<br />
esses matizes num bom resultado.<br />
Insisto: o objeto <strong>de</strong> pesquisa está <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma adversativa, não é<br />
um objeto real, ou um grupo real, por novo que ele seja. Se, para por<br />
um exemplo fictício mas nem tanto, um grupo indígena até então<br />
<strong>de</strong>sconhecido entra em contato com a socieda<strong>de</strong> circundante e temos a<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pesquisar no seu seio, mesmo que apenas nada saibase<br />
a respeito <strong>de</strong>le o objeto <strong>de</strong> pesquisa não existirá até que consigamos<br />
elaborar algo assim como:<br />
“A língua dos X pertence aparentemente ao tronco<br />
lingüístico Arawak; no entanto, as pinturas corporais que eles<br />
usam são do mesmo tipo que as que se enten<strong>de</strong>m como<br />
próprias dos grupos <strong>de</strong> língua Pano”<br />
Temos aí o lugar do nosso objeto. Fazer “um levantamento<br />
etnográfico a respeito dos índios X” po<strong>de</strong> ser uma tarefa muito<br />
interessante, ou um objetivo da nossa pesquisa, mas não é, enquanto<br />
tal, um objeto <strong>de</strong> pesquisa.<br />
Objetivos da pesquisa<br />
O objeto, uma vez exposto em pouco espaço –como já dissemos, ele<br />
<strong>de</strong>veria caber em duas orações separadas por um ponto e vírgula, ou<br />
numa única oração articulada em torno a um “mas”, ou a um “porém”-<br />
<strong>de</strong>ve <strong>de</strong>pois se <strong>de</strong>sdobrar numa lista <strong>de</strong> objetivos, ou ações que a<br />
pesquisa preten<strong>de</strong> levar a termo.<br />
É necessário diferenciar objeto e objetivos. Sobretudo porque é<br />
muito fácil confundi-los, pelo nome e pelo lugar que ocupam no<br />
projeto. Na verda<strong>de</strong> <strong>de</strong>veriam ser entida<strong>de</strong>s muito diferentes. O objeto<br />
da pesquisa, como acabamos <strong>de</strong> expor, é algo que se argumenta, mas<br />
não é algo que se faça. Lembremos um dos objetos apresentados pouco<br />
antes como exemplo:<br />
“Os grupos <strong>de</strong> skinheads são vistos como uma reação das<br />
classes baixas e medias-baixas urbanas à imigração; no<br />
entanto, eles tem uma presença marcante na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> X,<br />
on<strong>de</strong> a imigração é praticamente inexistente”.<br />
Não há modo <strong>de</strong> fazer isso. Os objetivos, pelo contrário, fazem-se,<br />
são ações previstas que <strong>de</strong>vem dar carne à alteração teórica anunciada<br />
pelo objeto <strong>de</strong> pesquisa, por exemplo:<br />
. Acompanhar e <strong>de</strong>screver os encontros e as ativida<strong>de</strong>s do<br />
grupo <strong>de</strong> skinheads.<br />
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