22.06.2015 Views

digital - Comunidade Virtual de Antropologia

digital - Comunidade Virtual de Antropologia

digital - Comunidade Virtual de Antropologia

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Esse obscuro objeto da pesquisa<br />

- Você acredita que se trata <strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong><br />

compartilhada, comum aos possíveis observadores, quem<br />

sabe até universal?<br />

- Você acredita que essa realida<strong>de</strong> é... constante? Que há<br />

uma certa estabilida<strong>de</strong> nas relações que a constituem?<br />

A exposição <strong>de</strong> Law inclui mais elementos, mas basta com estes por<br />

enquanto. Façamos o teste. É claro que se trata <strong>de</strong> perguntas<br />

cumulativas; não há como respon<strong>de</strong>r que sim à ultima, ou mesmo à<br />

segunda, se se respon<strong>de</strong>u que não à primeira. De modo que o resultado<br />

po<strong>de</strong> talvez se or<strong>de</strong>nar numa escala simples que vai do ceticismo<br />

absoluto a um positivismo musculoso.<br />

Po<strong>de</strong>mos imaginar que alguém como Popper respon<strong>de</strong>ria que sim a<br />

todas as perguntas, no caso improvável <strong>de</strong> que se dignasse a respon<strong>de</strong>r<br />

ao teste. Improvável também no caso <strong>de</strong> Wittgenstein, <strong>de</strong> quem, no<br />

entanto, po<strong>de</strong>mos supor que jamais diria que sim a todas as perguntas;<br />

talvez à primeira, se muito. Mas é bem provável que se negasse<br />

também a respon<strong>de</strong>r que não, e em lugar disso nos atacaria com<br />

alguns aforismos.<br />

Mas isso não passa <strong>de</strong> especulação. O quê respon<strong>de</strong>ríamos nós?<br />

Quais nós? É mais que provável que boa parte dos nossos colegas <strong>de</strong><br />

universida<strong>de</strong>, estudantes ou professores -aqueles que se concentram,<br />

por exemplo, nas faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> engenharia, e em algumas <strong>de</strong> ciências<br />

da terra ou da saú<strong>de</strong>- respon<strong>de</strong>sse que sim a todo, e com ênfase. De<br />

fato, dizer que o positivismo ao estilo do século XIX é obsoleto não<br />

significa que ele não continue firme e forte em muitos lugares: ele<br />

continua, <strong>de</strong> fato. Se para muitos humanistas Popper parece algo assim<br />

como um apóstolo do cientificismo duro, haverá muito engenheiro<br />

para quem ele não passe <strong>de</strong> mais um charlatão pós-mo<strong>de</strong>rno.<br />

E nas ciências humanas? Bom, aí as coisas se complicam. É bem<br />

provável que nesse caso as respostas “sim” se limitem, no máximo, à<br />

primeira; ou quem sabe às duas ou até três primeiras perguntas.<br />

Além <strong>de</strong>sse ponto, é difícil que o ceticismo não se manifeste.<br />

Mas para complicar a questão, as respostas quiçá mudassem se fosse<br />

possível separar, digamos, o eu cotidiano do sujeito do seu eu<br />

acadêmico. Isto é, po<strong>de</strong> ser que um humanista nos responda com<br />

extremo ceticismo falando, como tal humanista, <strong>de</strong> seus temas <strong>de</strong><br />

investigação e reflexão; e que no entanto ele ostente um grau<br />

consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> positivismo quando se trata <strong>de</strong> outros temas que não<br />

são <strong>de</strong> sua alçada. Questões médicas, por exemplo. Ou biológicas,<br />

físicas, etc. Po<strong>de</strong> que nesses casos ele esteja disposto até a admitir que<br />

a realida<strong>de</strong> real é inequívoca. Talvez até em terrenos propriamente<br />

humanos que ele não trata como especialista. Sei lá: o último<br />

escândalo <strong>de</strong> corrupção. Po<strong>de</strong> ser que nesse caso ele exija o<br />

<strong>de</strong>svendamento <strong>de</strong> uma verda<strong>de</strong> sem ambigüida<strong>de</strong>s. O mesmo mas em<br />

sentido contrário po<strong>de</strong> acontecer, é claro, com os positivistas ferrenhos:<br />

sempre há essas circunstâncias em que até eles <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser<br />

ferrenhos e alegam matizes, ambigüida<strong>de</strong>s, pontos <strong>de</strong> vista...<br />

27

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!