digital - Comunidade Virtual de Antropologia
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Oscar Calavia Sáez<br />
estatísticas po<strong>de</strong>m ser técnicas úteis na pesquisa antropológica; armar<br />
uma barraca, dirigir um carro numa gran<strong>de</strong> cida<strong>de</strong>, pescar, atirar,<br />
acen<strong>de</strong>r uma fogueira; i<strong>de</strong>ntificar fonemas, apren<strong>de</strong>r línguas sem<br />
ajuda <strong>de</strong> gramáticas e dicionários; cozinhar, interpretar ou traçar<br />
mapas, localizar pontos com um gps, tocar o tamborim; jogar carteado,<br />
manipular softwares, preparar excertas <strong>de</strong> plantas, po<strong>de</strong>m ser, em um<br />
dado momento, técnicas necessárias para uma investigação<br />
etnográfica. Uma ciência que recorre à observação participante, à<br />
imersão numa vida não confinada no laboratório, po<strong>de</strong> exigir<br />
praticamente qualquer tipo <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>, e é muito difícil saber<br />
quando cada uma <strong>de</strong>las simplesmente facilita a vida do pesquisador<br />
durante a pesquisa –o que não é pouco-, ou terá conseqüências<br />
intelectuais para o trabalho, influindo em sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />
comunicar, <strong>de</strong> alcançar tais ou quais lugares ou pontos <strong>de</strong> vista, <strong>de</strong><br />
registrar com mais exatidão e mais riqueza <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes.<br />
Que po<strong>de</strong>ríamos dizer então da observação participante, essa<br />
espécie <strong>de</strong> arte <strong>de</strong> viver olhando em volta? Chamar a observação<br />
participante <strong>de</strong> técnica é litote (ou, para dizé-lo em linguagem mais<br />
comum, un<strong>de</strong>rstatement): viver é um jeito, morrer um <strong>de</strong>scuido, e a<br />
observação participante está cheia do um e do outro. A observação<br />
participante, mais do que uma técnica, é um ambiente <strong>de</strong>ntro do qual<br />
ganham um valor modificado outras técnicas também em si muito<br />
amplas. Uma entrevista etnográfica, por exemplo, dificilmente exige<br />
alguma habilida<strong>de</strong> que não possa ser exigida <strong>de</strong> qualquer<br />
entrevistador, e se tem algo <strong>de</strong> específico provavelmente esteja mais do<br />
lado da restrição dos recursos técnicos que da sua amplificação. Um<br />
<strong>de</strong>tetive, um jornalista ou um médico se esforçam, em geral, porque o<br />
entrevistado diga mais do que quer dizer. Já na antropologia isso po<strong>de</strong><br />
estar sujeito a algumas limitações éticas ou epistemológicas: o que o<br />
nativo diz querendo e o que diz sem querer são dados <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m muito<br />
diferente.<br />
É claro que esse conjunto extremamente difuso das técnicas não<br />
cabe num manual ou numa disciplina <strong>de</strong> técnicas. As técnicas exigem<br />
treinamentos específicos, mediante um aprendizado artesanal perto <strong>de</strong><br />
pesquisadores já iniciados ou, o que é mais comum, iniciativa ad hoc<br />
do próprio pesquisador. A rigor, um curso <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> pesquisa em<br />
antropologia <strong>de</strong>veria ser uma honesta rememoração autobiográfica do<br />
pesquisador, em que ele expusesse aos seus alunos os recursos <strong>de</strong> que<br />
se valeu para averiguar o que averiguou. Em capítulos posteriores nos<br />
limitaremos a tratar <strong>de</strong> algumas técnicas <strong>de</strong>finidoras da antropologia.<br />
Além da entrevista, já citada, falaremos na observação participante, um<br />
postulado ao qual só po<strong>de</strong>mos chamar <strong>de</strong> técnica com uma certa<br />
licencia poética, e falaremos no diário <strong>de</strong> campo, e nos ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong><br />
campo, recursos que, como tais, em pouco se diferenciam dos<br />
procedimentos que servem por toda a parte à disciplina da escrita.<br />
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