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digital - Comunidade Virtual de Antropologia

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Esse obscuro objeto da pesquisa<br />

que eles mesmos exigirão sem dúvida <strong>de</strong> outros profissionais. Aliás,<br />

essas exigências operam sobre um universo on<strong>de</strong> já existem<br />

mecanismos locais <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>: bancas, orientadores,<br />

referees, etc. Na prática, todos sabem porém que essa avaliação local e<br />

<strong>de</strong>talhada não po<strong>de</strong> concorrer com um sistema centralizado e<br />

estatístico, e em gran<strong>de</strong> medida trocam seus critérios pelos <strong>de</strong>ste.<br />

Ou seja, os requisitos da pesquisa continuam em mãos dos<br />

acadêmicos, ninguém os tocou. Apenas sua implementação pertence<br />

ao mundo privado dos universitários, já que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o momento em que<br />

se reúnem como coletivo –o colegiado <strong>de</strong> um curso, por exemplo- a<br />

atenção é <strong>de</strong>sviada a outro tipo <strong>de</strong> requisitos <strong>de</strong> outra or<strong>de</strong>m, que<br />

apenas na pratica, nunca no papel, se revelam contrários aos primeiros.<br />

Os pesquisadores iniciantes po<strong>de</strong>m ter algumas queixas contra o<br />

sistema –requisitos burocráticos, pressão pelos prazos- mas em<br />

compensação po<strong>de</strong>m lhe agra<strong>de</strong>cer muito: bolsas, financiamento e,<br />

talvez, uma maior tolerância com as <strong>de</strong>ficiências do seu trabalho em<br />

prol da produtivida<strong>de</strong>. Se isso último é visto como um justo benefício<br />

que <strong>de</strong>ve ser aproveitado ou como uma tentação inaceitável fica, <strong>de</strong><br />

fato, ao alvitre e às custas dos pesquisadores e seus orientadores.<br />

Autoria<br />

É importante notar que a elaboração <strong>de</strong> uma tese <strong>de</strong>ve transformar<br />

em autor a seu autor. A tese <strong>de</strong>veria ser, sempre, autoral. Isso é muito<br />

mais que a tautologia que a primeira vista parece.<br />

Há uma diferença importante entre autoria e proprieda<strong>de</strong><br />

intelectual. Pareceria que esta é uma conseqüência daquela, com os<br />

mesmos limites. Mas para que se entenda bem o que estou chamando<br />

aqui <strong>de</strong> autoria, seria preciso pelo contrario insistir nas diferenças entre<br />

ambas.<br />

Correm maus tempos para a autoria e bons tempos para a<br />

proprieda<strong>de</strong> intelectual. A primeira tem sido muito contestada,<br />

recortada ou relativizada nos últimos <strong>de</strong>cênios. Sabemos que o autor<br />

nunca passa <strong>de</strong> co-autor, ro<strong>de</strong>ado <strong>de</strong> outros co-autores como seus<br />

colegas ou seu orientador, e, no caso da antropologia, esses co-autores<br />

secularmente <strong>de</strong>sprezados que são os nativos. O nativo como co-autor é<br />

uma das pedras <strong>de</strong> toque da antropologia atual. E o antropólogo como<br />

autor um dos seus vilões mais suspeitos. A autoria é muito relativa, em<br />

resumo.<br />

E no entanto, ô paradoxo, tem sido precisamente nesse tempo <strong>de</strong><br />

relativização da autoria quando a proprieda<strong>de</strong> intelectual tem se<br />

expandido absolutamente. Com muita freqüência no mesmo<br />

movimento, e com apoio dos mesmos agentes. Há um imperativo<br />

ético, cada vez mais revestido <strong>de</strong> requisito legal, <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar e<br />

salvaguardar a proprieda<strong>de</strong> intelectual. Se isso po<strong>de</strong> parecer fácil sobre<br />

o papel –crédito e recompensa sejam dados a quem inventou ou criouos<br />

antropólogos estamos fadados por mérito profissional a saber que<br />

não, que pelo contrário é muito difícil. A criação nunca po<strong>de</strong> ser uma<br />

criação original e isenta quando, como sabemos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> examinar<br />

padrões culturais, tradições e transmissões, se cria sempre por variação,<br />

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