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digital - Comunidade Virtual de Antropologia

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Oscar Calavia Sáez<br />

COM A AJUDA DOS MEIOS DIGITAIS PODEMOS FAZER<br />

PROLIFERAR UMA MASSA DE DADOS INTRATÁVEL E AFINAL<br />

INÚTIL.<br />

Talvez seja necessário ser um pouco mais explícito. O risco <strong>de</strong> se<br />

afogar numa massa <strong>de</strong> dados intratável e afinal inútil é bem superior<br />

ao <strong>de</strong> contrair uma amebíase ou uma hepatite, ou ao <strong>de</strong> ser rejeitado<br />

pelos nativos; <strong>de</strong>ve-se a esse aci<strong>de</strong>nte previsível um bom número <strong>de</strong><br />

infortúnios. Isso não significa em absoluto renunciar aos meios<br />

mecânicos ou digitais. Mas <strong>de</strong>vemos tomar frente a eles uma série <strong>de</strong><br />

precauções, que exigem, <strong>de</strong> início, evitar esse novo hiper-empirismo<br />

embutido às vezes na pesquisa que conta com meios po<strong>de</strong>rosos <strong>de</strong><br />

registro: uma convicção, não muito explícita mas instigante, <strong>de</strong> que a<br />

objetivida<strong>de</strong> que há muito tempo negamos ao pesquisador po<strong>de</strong> ser<br />

atingida se este conta com meios <strong>de</strong> registrar dados em escala muito<br />

maior. Toda pesquisa, repita-se, é obra <strong>de</strong> um sujeito, use ou não meios<br />

digitais: isto é, suas dimensões são as que correspon<strong>de</strong>m à capacida<strong>de</strong><br />

que esse sujeito tem <strong>de</strong> processa dados. Os meios digitais ampliam sem<br />

dúvida essa capacida<strong>de</strong>, mas não a levam a escalas diferentes.<br />

O conjunto <strong>de</strong> dados passará por uma triagem ou edição antes <strong>de</strong><br />

servir para a análise. E <strong>de</strong>vo sublinhar, porque já vi <strong>de</strong>masiados alunos<br />

não levarem em consi<strong>de</strong>ração nos seus cálculos algo tão obvio, que a<br />

triagem <strong>de</strong> duzentas horas <strong>de</strong> gravação nunca levará menos <strong>de</strong><br />

duzentas horas, não importa se o nosso objetivo é criar um texto ou<br />

criar um ví<strong>de</strong>o. É claro que levará mais, muito mais. Fácil que leve<br />

muitíssimo mais.<br />

Mais algo que curiosamente é ainda necessário dizer: é in<strong>de</strong>fensível<br />

se dar ao trabalho <strong>de</strong> transcrever essa massa <strong>de</strong> gravações. Por quê,<br />

então, a transcrição <strong>de</strong> horas e horas <strong>de</strong> fitas é uma ativida<strong>de</strong> tão<br />

tradicional? Será que todo mundo esteve tão errado assim durante<br />

<strong>de</strong>cênios, ou até um século inteiro?<br />

Consi<strong>de</strong>remos um <strong>de</strong>talhe: Gutenberg inventou a imprensa no<br />

século XV, tornando a escrita o primeiro veículo <strong>de</strong> reprodução e<br />

armazenagem massiva <strong>de</strong> dados. Quarenta ou cinqüenta anos atrás,<br />

um magnetofone-reprodutor, para não falar <strong>de</strong> um projetor <strong>de</strong> cinema,<br />

eram aparelhos caros, raros e pesados: cinematecas ou audiotecas eram<br />

instituições raras e <strong>de</strong> vanguarda, quando já podiam se encontrar<br />

bibliotecas em qualquer canto do mundo. Isto é, apenas uns <strong>de</strong>cênios<br />

atrás, a transcrição ainda era necessária para transformar a nossa<br />

gravação em documento, possibilitar seu armazenamento e<br />

divulgação. Isso não é mais assim. É mais fácil e barato agora reunir e<br />

conservar um acervo <strong>de</strong> gravações digitais que uma biblioteca, <strong>de</strong><br />

modo que tanto a formação <strong>de</strong> um acervo ou <strong>de</strong> um fundo documental<br />

como a conservação da documentação básica <strong>de</strong> uma tese po<strong>de</strong>m ser<br />

feitas legitimamente nesse mesmo suporte que utilizamos para colher<br />

a informação. Os meios digitais <strong>de</strong> armazenamento e reprodução<br />

fazem <strong>de</strong>snecessária toda aquela velha labor <strong>de</strong> transcrição: mas antes<br />

disso, os meios digitais <strong>de</strong> gravação a tem feito praticamente<br />

impossível.<br />

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