digital - Comunidade Virtual de Antropologia
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Oscar Calavia Sáez<br />
não é oferecer pratos extraordinários, mas evitar que ninguém se<br />
levante da mesa gritando “isto não é comida!”.<br />
Há um vasto campo para a cozinha internacional <strong>de</strong>ntro da<br />
antropologia. Pertence a ele boa parte do que se exporta fora do<br />
domínio estritamente acadêmico para uso do estado ou das instituições<br />
internacionais. É um estilo teórico eclético que evita se i<strong>de</strong>ntificar com<br />
escolas concretas, e se concentra naquilo que é ponto pacífico <strong>de</strong>ntro<br />
da profissão, fugindo do escândalo que suporia arejar disputas caseiras.<br />
A antropologia internacional aplica aos seus campos <strong>de</strong> estudo um<br />
processo <strong>de</strong> transformação em que o resultado é algo muito diferente<br />
dos dados brutos, mas muito igual a todos os outros resultados que se<br />
po<strong>de</strong>m se obter a partir <strong>de</strong> quaisquer dados brutos.<br />
A antropologia internacional costuma usar um estilo literário<br />
elevado que evite a impressão –provável, caso contrário- <strong>de</strong> que foi<br />
elaborada por um micro-computador e aplicada indiferentemente a<br />
qualquer pesquisa. Imaginemos alguns exemplos do estilo cozinha<br />
internacional:<br />
“a análise do ritual X revela uma arena social entremeada<br />
<strong>de</strong> diferenças e disputas em que diferentes sujeitos negociam<br />
uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> constantemente re-elaborada”<br />
“os nativos Y constroem um universo imaginário que<br />
mantém relações <strong>de</strong> ida-e-volta com a sua praxe cotidiana e<br />
que outorga a esta um sentido transcen<strong>de</strong>nte”<br />
“a estrutura da socieda<strong>de</strong> Z é um produto da sua história,<br />
à qual, ao mesmo tempo, fornece pautas e um quadro<br />
intelectual que a faz significativa”.<br />
Todas as iguarias da cozinha internacional foram alguma vez<br />
inovadoras ou até provocativas, antes <strong>de</strong> que seu uso continuado<br />
limasse as suas arestas e as integrasse no gosto médio. Não há nenhum<br />
motivo para excluí-las da nossa cozinha, pois são nutritivas e aceitas<br />
por todos. Só é preciso perceber que, se o cardápio se reduz a elas, po<strong>de</strong><br />
ser que ninguém reclame mas é quase seguro que ninguém<br />
conseguirá lembrar do banquete <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um tempo.<br />
Cozinha étnica<br />
No extremo oposto da cozinha internacional se encontra, é claro, a<br />
cozinha étnica. Esta induz, a princípio, uma certa suspensão <strong>de</strong> juízo,<br />
porque se coloca fora das escalas habituais; o Guia Michelin evita<br />
julgar os restaurantes étnicos, e as cozinhas teóricas étnicas <strong>de</strong>sprezam<br />
os epistemólogos. O dialogo seria muito difícil, em razão da ausência<br />
<strong>de</strong> critérios comuns:<br />
“Esse babuíno está muito duro”<br />
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