22.06.2015 Views

digital - Comunidade Virtual de Antropologia

digital - Comunidade Virtual de Antropologia

digital - Comunidade Virtual de Antropologia

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Oscar Calavia Sáez<br />

<strong>de</strong> Marylin Strathern, por exemplo, optam <strong>de</strong>claradamente por um<br />

estilo argumentativo, e não narrativo, o que mostra que essa opção não<br />

po<strong>de</strong> ser facilmente <strong>de</strong>scartada em nome <strong>de</strong> uma preferência pelo<br />

modo mais clássico do relato.<br />

Em qualquer caso, <strong>de</strong>ve ficar claro para o pesquisador que é a<br />

forma relato a que os seres humanos esperam na maior parte das<br />

vezes, e que se <strong>de</strong>sviar <strong>de</strong>ssa forma é assumir um risco muito gran<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> incomunicação. Mais vale não assumi-lo a não ser que se tenham<br />

razões muito boas para faze-lo.<br />

Isso significa também, como já foi dito, que a escrita <strong>de</strong> uma<br />

etnografia enfrenta problemas muito similares aos da escrita <strong>de</strong><br />

qualquer gênero narrativo. Para simplificar muito, isso exige um<br />

princípio, um meio e um fim, e exige também uma mínima dose <strong>de</strong><br />

intriga. O fim não po<strong>de</strong> constar já junto com o princípio, e se consta só<br />

<strong>de</strong>ve constar para <strong>de</strong>spertar ainda mais a curiosida<strong>de</strong> sobre o meio que<br />

conduz <strong>de</strong> um ao outro. A exposição <strong>de</strong> uma pesquisa <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rarse<br />

fracassada (a ressalva <strong>de</strong> algum exemplo vanguardista que<br />

pessoalmente não lembro ou nunca vi) quando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início se<br />

confun<strong>de</strong>m as premissas, as conclusões e os argumentos, para reiterarse<br />

in<strong>de</strong>finidamente até o fim (que nesse casos o leitor teme que não<br />

chegará nunca). Isso, repito, não é uma recomendação preciosista ou<br />

<strong>de</strong> simples forma: com muita freqüência, os textos ten<strong>de</strong>m a essa<br />

forma quando a pesquisa em si é inócua ou tautológica.<br />

Por on<strong>de</strong> começar?<br />

A síndrome da pagina em branco –por on<strong>de</strong> começar- aflige a<br />

qualquer etnógrafo. Em si, como crise, tem um valor que não <strong>de</strong>vemos<br />

<strong>de</strong>sprezar: ela mostra, mesmo aos convictos, que a simples narração<br />

dos dados não tem nada <strong>de</strong> simples; que o comentário erudito às<br />

contribuições teóricas anteriores, ou a nova expressão teórica <strong>de</strong> que<br />

sejamos capazes, é uma tarefa muito mais <strong>de</strong>limitada: po<strong>de</strong>mos ou não<br />

ter a imaginação e o saber necessários para realiza-la a contento, mas<br />

nunca isso exigirá um trabalho tão massivo como o da <strong>de</strong>scrição da<br />

nossa pesquisa.<br />

Sobretudo, antes <strong>de</strong> chegar às conclusões teóricas é preciso<br />

começar. Não precisa talvez explicar que a or<strong>de</strong>m da escrita não é<br />

necessariamente a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> edição: a introdução -às vezes o próprio<br />

titulo-, po<strong>de</strong>, <strong>de</strong> fato <strong>de</strong>ve ser ser o ultimo a ser escrito. E essa possível<br />

diferença entre a or<strong>de</strong>m na elaboração e a or<strong>de</strong>m do produto final<br />

esten<strong>de</strong>-se a qualquer outro capítulo.<br />

Mas isso não significa que a or<strong>de</strong>m da escrita seja irrelevante. É<br />

tentador começar, por exemplo, pelo capitulo III, que já nos parece<br />

muito mais claro, adiantar partes da conclusão ou ir copiando e<br />

comentando algumas falas significativas. Mas isso po<strong>de</strong> dar muito<br />

trabalho <strong>de</strong>pois, na hora <strong>de</strong> organizar o conjunto, com o risco <strong>de</strong><br />

lacunas e reiterações. E, sobretudo, o fato <strong>de</strong> que tenhamos tudo a dizer<br />

sobre o capitulo III, e pouco ou nada sobre o I e o II, po<strong>de</strong> ser sinal <strong>de</strong><br />

192

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!