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digital - Comunidade Virtual de Antropologia

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Oscar Calavia Sáez<br />

Via <strong>de</strong> regra, isso acontece, como acontece com o próprio signo<br />

lingüístico, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> contrastes. É o contraste o que cria os<br />

fonemas e o que organiza os campos semânticos da palavra. E é o<br />

contraste que da relevo à imagem: contraste com a <strong>de</strong>scrição verbal,<br />

contraste entre a imagem auferida na pesquisa e a expectativa <strong>de</strong><br />

imagem do leitor, contraste entre diferentes imagens tomadas por<br />

diferentes sujeitos focando um mesmo referente. Em último termo, à<br />

imagem <strong>de</strong>ve-se exigir, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma tese, o mesmo que se exige à<br />

palavra, isto é, que traga alterações à percepção do objeto que serviu<br />

como ponto <strong>de</strong> partida da pesquisa. E que essas alterações tenham uma<br />

vida in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte daquelas que foram formuladas em palavras.<br />

Em último termo, uma tese dificilmente <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> ser verbal:<br />

mesmo que ela fosse inteiramente composta <strong>de</strong> imagens, será<br />

concluída, resumida, discutida, julgada e avaliada em palavras, e não<br />

po<strong>de</strong>ria ser <strong>de</strong> outro modo. Mas, na mesma medida em que atribuamos<br />

relevância à contribuição visual <strong>de</strong> uma tese, essas palavras <strong>de</strong>veriam<br />

se reduzir ao papel <strong>de</strong> auxiliares –numa situação simétrica à <strong>de</strong>sse<br />

papel ilustrativo que as imagens po<strong>de</strong>m preencher numa tese<br />

estritamente verbal.<br />

Devo lembrar que estou a falar <strong>de</strong> teses. Como já foi dito <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

início, nem toda pesquisa é tese, nem toda antropologia é pesquisa, <strong>de</strong><br />

modo que esse logocentrismo que correspon<strong>de</strong> à tese não<br />

necessariamente se observa com igual intensida<strong>de</strong> no conjunto <strong>de</strong>ssas<br />

ativida<strong>de</strong>s.<br />

Nota: É digno <strong>de</strong> nota que, na mesma época em que é comum a<br />

critica ao logocentrismo, tenha se feito muito raro o uso <strong>de</strong> gráficos na<br />

antropologia. Os gráficos eram muito comuns na antropologia<br />

clássica, e foram constantemente usados, por exemplo, no<br />

estruturalismo. Mas –e sem que, que eu saiba, nenhum discurso critico<br />

tenha-se acirrado contra eles- os gráficos tem se tornado rarida<strong>de</strong>,<br />

quando não <strong>de</strong>saparecido totalmente, na antropologia posterior à<br />

critica pós-mo<strong>de</strong>rna. Não é difícil imaginar que eles sejam suspeitos<br />

aos olhos daqueles que <strong>de</strong>sconfiam <strong>de</strong> abstrações, esquematismos,<br />

geometrias e abominações semelhantes. Mas é digno <strong>de</strong> nota que,<br />

enquanto a fotografia –quiçá porque ainda hoje é vista como mais<br />

“real” ou “espontânea”- tem passagem garantida, ao gráfico parece se<br />

negar a sua condição <strong>de</strong> imagem e <strong>de</strong> mensagem não-verbal.<br />

O resultado é que muitos teoremas da antropologia atual<br />

simplesmente não se <strong>de</strong>ixam enten<strong>de</strong>r pela insuficiência da<br />

linguagem (ou da linguagem do autor) para expressa-los, e pela falta<br />

<strong>de</strong> gráficos que po<strong>de</strong>ria remediar essa insuficiência. O pesquisador<br />

<strong>de</strong>ve lembrar que a imaginação espacial e gráfica é capaz <strong>de</strong> sintetizar<br />

com muita facilida<strong>de</strong> um aspecto das relações que a linearida<strong>de</strong> do<br />

discurso obscurece.<br />

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