22.06.2015 Views

digital - Comunidade Virtual de Antropologia

digital - Comunidade Virtual de Antropologia

digital - Comunidade Virtual de Antropologia

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Esse obscuro objeto da pesquisa<br />

Vaga precisão<br />

Devo resolver uma contradição aparente. Acabo <strong>de</strong> dizer que o<br />

objeto <strong>de</strong>ve ser formulado <strong>de</strong> um modo claro e preciso. Mas também<br />

digo em outros momentos que ele <strong>de</strong>ve ser vago, e permanecer em<br />

elaboração até o final da pesquisa. A contradição é apenas aparente.<br />

Vejamos um exemplo muito longe da antropologia, quase nas suas<br />

antípodas. Nos finais do século XIX os astrônomos <strong>de</strong>duziram, das<br />

alterações da órbita <strong>de</strong> Urano, a existência <strong>de</strong> um outro planeta, que<br />

passou a ser procurado avidamente (Planeta X era o nome que então se<br />

lhe atribuía) e que, já na década <strong>de</strong> 1930, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter sido localizado e<br />

(precariamente) fotografado, acabou sendo batizado como Plutão. Po<strong>de</strong><br />

se dizer que a idéia <strong>de</strong> Plutão foi durante todo esse tempo, e ainda<br />

<strong>de</strong>pois, muito vaga. Plutão, na falta dos gran<strong>de</strong>s telescópios que vieram<br />

<strong>de</strong>pois, instalados em terra ou a bordo <strong>de</strong> um satélite, era praticamente<br />

invisível. E, <strong>de</strong> fato, não há muito tempo que um congresso <strong>de</strong><br />

astrônomos <strong>de</strong>cidiu <strong>de</strong>gradar o pobre Plutão à categoria <strong>de</strong> planetaanão.<br />

Mas a <strong>de</strong>scrição que no momento inicial foi feita das alterações<br />

da órbita <strong>de</strong> Urano era o suficientemente clara como para instigar<br />

longas pesquisas sobre a existência <strong>de</strong>sse objeto. Não há portanto<br />

contradição entre a vaguida<strong>de</strong> do objeto e a precisão e clarida<strong>de</strong> com<br />

que <strong>de</strong>vemos situa-lo. Se não somos precisos ou claros sobre a sua<br />

situação, o objeto nunca cobrará vida como tal. Se alem <strong>de</strong> ser precisos<br />

e claros sobre a situação do objeto ele é também preciso, <strong>de</strong>talhado e<br />

claro isso significa que a pesquisa sobra, porque já sabemos todo o que<br />

queremos saber sobre ele. Ou não queremos saber mais do que já<br />

sabemos.<br />

Metodologia ou método?<br />

Num projeto o método <strong>de</strong>ve ser mostrado, muito mais do que<br />

explicitado. As reflexões metodológicas –pensemos, por exemplo, em<br />

todas as consi<strong>de</strong>rações sobre a relação entre o pesquisador e os sujeitos<br />

nativos- <strong>de</strong>vem ficar evi<strong>de</strong>ntes na pesquisa, e na justificação do objeto,<br />

sobretudo nos objetivos em que <strong>de</strong>sdobramos o objeto.<br />

Ao longo <strong>de</strong>ssas partes do projeto já <strong>de</strong>ve ficar claro, por exemplo,<br />

se preten<strong>de</strong>mos mergulhar como observadores participantes na<br />

situação que estudaremos, se vamos nos basear em fontes <strong>de</strong> segunda<br />

mão, se entrevistaremos a um amplo numero <strong>de</strong> sujeitos ou daremos<br />

exclusivida<strong>de</strong> ou priorida<strong>de</strong> a alguns li<strong>de</strong>res ou representantes, se<br />

vamos analisar narrativas ou <strong>de</strong>screver comportamentos observados,<br />

se vamos realizar pesquisas estatísticas, etc.<br />

Mas mesmo que já <strong>de</strong>va po<strong>de</strong>r se inferir <strong>de</strong> outras partes do projeto,<br />

é muito útil que tudo isso seja explicitado num item aparte sobre o<br />

método que vai ser seguido.<br />

Esse capítulo po<strong>de</strong> ser chamado <strong>de</strong> metodologia? Sejamos sérios:<br />

NÃO. A metodologia, como sabe qualquer um, é um discurso sobre o<br />

método, não é método. Metodologia é uma reflexão sobre os atributos,<br />

127

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!