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digital - Comunidade Virtual de Antropologia

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Esse obscuro objeto da pesquisa<br />

visão, missão e função; ou as mesmas <strong>de</strong>clarações, apenas com uma<br />

retórica diferente, dos movimentos sindicais <strong>de</strong> professores, alunos ou<br />

servidores administrativos. Para todas estas entida<strong>de</strong>s, a Universida<strong>de</strong> é<br />

a se<strong>de</strong> do pensamento, é um espaço <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, inovação, <strong>de</strong>mocracia<br />

e pensamento crítico.<br />

Provavelmente a Universida<strong>de</strong> não é tudo o contrário disso. Mas<br />

<strong>de</strong>certo a Universida<strong>de</strong> não é isso. Nunca foi, e provavelmente nunca<br />

será. A Universida<strong>de</strong> na sua forma atual, com todas suas instituições<br />

fundamentais, da autonomia universitária à greve <strong>de</strong> estudantes<br />

passando pelas teses e os seminários, tem sua origem na Ida<strong>de</strong> Média<br />

européia, e concretamente no meio clerical <strong>de</strong>ssa Ida<strong>de</strong> Média (que,<br />

com certeza, era muito mais dinâmico e inovador do que mais tar<strong>de</strong><br />

contou a propaganda iluminista). Teve como objetivo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua<br />

origem, fornecer quadros à Igreja, e mais tar<strong>de</strong> ao Estado, e em geral<br />

zelar pela ortodoxia. Às vezes ortodoxia em sentido muito estrito: a<br />

Inquisição não está menos ligada à universida<strong>de</strong> que a ciência. Não é<br />

necessário aprofundar nesse fantasma escondido no armário<br />

universitário: quem queira saber mais po<strong>de</strong>rá comprova-lo sem muito<br />

esforço lendo um pouco <strong>de</strong> história. Pelo outro lado, correntes<br />

inovadoras como o Humanismo, o Iluminismo, o Socialismo ou a<br />

Ciência mo<strong>de</strong>rna surgiram na margem da Universida<strong>de</strong> ou à margem<br />

da Universida<strong>de</strong>: da mão <strong>de</strong> universitários mas em geral fora da<br />

universida<strong>de</strong>. Foram necessárias fortes pressões externas para que as<br />

universida<strong>de</strong>s inglesas se abriram, já no século XIX, as novas ciências<br />

<strong>de</strong>senvolvidas fora <strong>de</strong>la pelos cientistas do século XVIII.<br />

Há boas razões para que isto seja assim. Em geral, as Instituições<br />

não são os melhores viveiros para a crítica e a inovação; as instituições<br />

são conservadoras e reprodutoras. Certo, faz tempo que a critica e a<br />

inovação são parte obrigatória da agenda das instituições, mas isso faz<br />

parte do admirável mundo novo que nos anunciam as <strong>de</strong>mocracias<br />

atuais, on<strong>de</strong> a critica e a inovação são uma espécie <strong>de</strong> atributos<br />

normais <strong>de</strong> um cidadão sadio.<br />

E quando falo em instituições não me refiro apenas a órgãos<br />

diretores, nem ao claustro <strong>de</strong> professores. Pese ao seu famoso ativismo<br />

político –que prece<strong>de</strong> em muitos séculos ao maio do 68- os estudantes<br />

sempre foram, e continuam a ser, membros jovens <strong>de</strong> elites mais ou<br />

menos exclusivas, que chegado o momento justo saem da sua crisálida<br />

como expoentes mais ou menos inovadores ou esclarecidos do statu<br />

quo. Mesmo se querem virar o mundo <strong>de</strong> ponta a cabeça é bom que<br />

comecem sendo conscientes disso.<br />

A Universida<strong>de</strong> no seu conjunto po<strong>de</strong> ter um papel transformador –<br />

todo aquilo capaz <strong>de</strong> produzir algum efeito é capaz <strong>de</strong> alterar o seu<br />

entorno-, mas <strong>de</strong>certo não subversivo: em termos mais estritamente<br />

científicos, costuma ser mais capaz <strong>de</strong> difundir, controlar e <strong>de</strong>senvolver<br />

a ciência que <strong>de</strong> criá-la; o que, precisa dizer, não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser uma<br />

nobre função.<br />

Essas observações têm dois objetivos: primeiro, lembrar que a<br />

ciência é possível fora da Universida<strong>de</strong>, e que sua reclusão ao âmbito<br />

universitário não <strong>de</strong>veria ser um bom sinal. Segundo, que na medida,<br />

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