22.06.2015 Views

digital - Comunidade Virtual de Antropologia

digital - Comunidade Virtual de Antropologia

digital - Comunidade Virtual de Antropologia

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Esse obscuro objeto da pesquisa<br />

É claro que para enunciar esse tipo <strong>de</strong> perguntas <strong>de</strong>veremos<br />

formular antes o problema.<br />

Uma hipótese já é algo diferente, e não se apresenta sozinha, mas<br />

como um termo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> um problema teórico formulado<br />

previamente. É uma aposta –todo o fundamentada que for possível,<br />

porém aposta- sobre a solução ao problema proposto. Formular<br />

hipóteses é imprescindível para uma pesquisa <strong>de</strong> laboratório: não<br />

po<strong>de</strong>mos ficar brincando com as cobaias só para ver o que acontece, as<br />

experimentações <strong>de</strong>vem estar dirigidas a comprovar ou <strong>de</strong>scartar<br />

hipóteses.<br />

Mas formular hipóteses numa pesquisa baseada em trabalho <strong>de</strong><br />

campo não sempre será útil, e às vezes po<strong>de</strong> resultar excessivo.<br />

O objeto <strong>de</strong> pesquisa e a antropologia como etnografia.<br />

Objeto <strong>de</strong> pesquisa, problema <strong>de</strong> pesquisa, questão norteadora e<br />

hipóteses tem muito em comum e exigem o mesmo tipo <strong>de</strong> trabalho.<br />

Se, como acabamos <strong>de</strong> dizer, eles não estão direta e efetivamente no<br />

mundo, senão virtualmente no mundo através da ciência, a sua<br />

elaboração é produto da informação do pesquisador. Mas não apenas:<br />

no essencial, são produto da sua imaginação teórica.<br />

Mas se a antropologia é entendida como etnografia, esta exigência<br />

vai um passo além, e é por isso que aqui preferimos falar em objeto <strong>de</strong><br />

pesquisa. A antropologia-etnografia po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como uma<br />

ciência em que o objeto não po<strong>de</strong> ser plenamente <strong>de</strong>finido no projeto.<br />

Ou melhor, aquela em que o objeto atinge no projeto uma <strong>de</strong>finição<br />

apenas provisória, à espera da sua transformação pela própria pesquisa.<br />

Isso acontece, é claro, porque o protocolo etnográfico exige abertura<br />

empírica. A etnografia não é nem <strong>de</strong>ve ser uma pesquisa<br />

perfeitamente direcionada, como as que po<strong>de</strong>m se realizar no<br />

laboratório, on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>mos selecionar apenas as variáveis que são<br />

interessantes –para a verificação da nossa hipótese, por exemplo- com<br />

exclusão <strong>de</strong> outras. Por isso, e seguindo com o exemplo clássico antes<br />

apresentado, Os Nuer é um trabalho on<strong>de</strong> a <strong>de</strong>scrição vai muito além<br />

<strong>de</strong>sse objeto inicial, e <strong>de</strong> fato o modifica substancialmente. Não é<br />

apenas que uma socieda<strong>de</strong> acéfala se estruture através <strong>de</strong> uma<br />

organização segmentar: é que ela, como o próprio Evans-Pritchard diz,<br />

é, por exemplo, formulada em “idioma bovino”. São os touros e as<br />

vacas o fio <strong>de</strong> que está feito o tecido social Nuer. Isso não apenas<br />

outorga um colorido exótico ao relato, mas o modifica<br />

substancialmente: a or<strong>de</strong>m Nuer <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser uma variante acéfala<br />

daquela constituição política que encontramos alhures, ela ganha<br />

outras dimensões. O imaginário grupo <strong>de</strong> skinheads sem imigrantes<br />

que atacar passa a valer mais pelo modo em que se organiza e pelos<br />

valores que assume que por essa característica que lhe falta.<br />

Naturalmente, há pesquisas que passam a tratar seus “problemas”<br />

como objetos, acrescentando essas novas dimensões <strong>de</strong>scobertas, ou<br />

121

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!