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digital - Comunidade Virtual de Antropologia

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Oscar Calavia Sáez<br />

Ao consi<strong>de</strong>rar a diversida<strong>de</strong> teórica <strong>de</strong>ntro da antropologia, um<br />

pesquisador iniciante não <strong>de</strong>ve ignorar que ela existe num campo <strong>de</strong><br />

disputa eventualmente acirrada, mas sem que isso lhe conduza a essa<br />

varieda<strong>de</strong> esperta do reducionismo que po<strong>de</strong>ríamos batizar como<br />

reducinismo. Isto é: escolher uma linha teórica do mesmo modo e<br />

pelas mesmas razões que se escolhe um partido político fará <strong>de</strong><br />

alguém um bom militante (intra ou extra aca<strong>de</strong>mia), mas neutralizará<br />

qualquer contribuição específica da ciência que ele faça à política que<br />

ele quer fazer.<br />

Os Paradigmas<br />

As classificações sociais já expostas se ocupam mais <strong>de</strong> classificar<br />

sujeitos, ou seja teóricos, mais do que teorias. Mas estas também<br />

dialogam e disputam entre si, e po<strong>de</strong>m se agrupar. A Roberto Cardoso<br />

<strong>de</strong> Oliveira se <strong>de</strong>ve a ampla difusão entre os antropólogos brasileiros<br />

da noção <strong>de</strong> paradigma como recurso para classificar e <strong>de</strong>screver a<br />

teoria. A noção <strong>de</strong> paradigma está tomada da obra <strong>de</strong> Thomas Kuhn,<br />

<strong>de</strong> quem Roberto Cardoso a toma <strong>de</strong>scartando porém o que na obra <strong>de</strong><br />

Kuhn era o seu moto essencial: as revoluções. Como sabemos,<br />

seguindo o seu magistério, a antropologia é uma ciência<br />

pluriparadigmática on<strong>de</strong> as revoluções não parecem passar da retórica.<br />

Os paradigmas <strong>de</strong>stacados por Cardoso <strong>de</strong> Oliveira -o empirista, o<br />

racionalista, o culturalista e o critico- convivem na antropologia atual,<br />

com maior ou menor prestigio <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do lugar, mas sem cruzar<br />

suas armas para valer.<br />

Po<strong>de</strong> se objetar que, <strong>de</strong>scartando as revoluções, a matriz disciplinar<br />

<strong>de</strong> Roberto Cardoso se limita a um cometido puramente classificatório,<br />

um compromisso entre história da antropologia e algo assim como<br />

uma estrutura permanente do pensamento antropológico que se<br />

superpõe a gran<strong>de</strong>s blocos geográfico-temporais. Na <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong><br />

Cardoso <strong>de</strong> Oliveira, o paradigma racionalista equivale, sem muita<br />

sobra, à antropologia francesa. O empirismo é obviamente britânico, e<br />

os outros dois paradigmas pertencem respectivamente a duas gerações,<br />

ou conjuntos <strong>de</strong> gerações, <strong>de</strong> antropólogos americanos: Boas e seus<br />

discípulos, Geertz e os seus. A antropólogos <strong>de</strong> outras procedências<br />

cabe se incluir <strong>de</strong> modo mais ou menos perfeito em alguma <strong>de</strong>ssas<br />

categorias –acrescentando estilos, e não paradigmas em si- e aos<br />

brasileiros em particular cabe usar o gênio mestiço da nação para<br />

combinar <strong>de</strong> um modo eclético porém vivo os diversos paradigmas.<br />

Mas seria possível imaginar novas versões <strong>de</strong>ssa matriz. No sentido<br />

das revoluções kuhnianas, por exemplo. A convivência entre esses<br />

paradigmas da antropologia significa que a antropologia é<br />

pluriparadigmática, ou simplesmente que estamos escolhendo critérios<br />

<strong>de</strong>masiado pacíficos ou presentistas para <strong>de</strong>finir os paradigmas?<br />

Mesmo não sendo cumulativa, e assumindo como própria uma ampla<br />

genealogia <strong>de</strong> ancestrais muito diferentes entre si, não po<strong>de</strong> se dizer<br />

que não haja na antropologia paradigmas <strong>de</strong>rrotados ou expulsos a<br />

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