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digital - Comunidade Virtual de Antropologia

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Oscar Calavia Sáez<br />

<strong>de</strong> sinalização indica, em primeiro lugar, que o autor não ce<strong>de</strong>u a esse<br />

impulso, muito comum por inepto que seja, <strong>de</strong> dar todas as<br />

informações ao mesmo tempo: ele <strong>de</strong>ve se conter, <strong>de</strong>ve se resignar a<br />

expor dados que por enquanto parecem irrelevantes, e esperar o<br />

momento em que outros virão a lhes dar relevância. Sem isso, a<br />

confusão e a irrelevância gerais darão as caras <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro<br />

momento. O sistema <strong>de</strong> referências internas, uma série <strong>de</strong> sinais que<br />

remetam constantemente ao que já foi dito e ao que resta ainda por<br />

dizer, serve ao mesmo tempo para manter separados os blocos <strong>de</strong><br />

informação e para facilitar ao leitor (juiz em última instância da<br />

qualida<strong>de</strong> do trabalho) o trânsito entre eles.<br />

Em <strong>de</strong>finitiva<br />

O ponto central <strong>de</strong>ste subcapítulo insiste em que o relato é uma<br />

forma básica da comunicação humana, que quase sem alternativas<br />

será a que a nossa tese <strong>de</strong>va adotar. Suas referencias contínuas ao<br />

mundo da narrativa <strong>de</strong> ficção se justificam apenas porque as regras<br />

básicas do relato são comuns a esta e à literatura científica –que, é<br />

claro, tem suas especificida<strong>de</strong>s em outros níveis. Há no mundo<br />

infinitos livros sobre narrativida<strong>de</strong> ou semiótica do relato, há oficinas<br />

<strong>de</strong> escrita criativa, há palestras <strong>de</strong> escritores profissionais que<br />

preten<strong>de</strong>m oferecer alguns dos secretos <strong>de</strong> sua arte, mas apesar disso<br />

tudo é obvio que as pessoas não apren<strong>de</strong>m a relatar assim, mas<br />

ouvindo e, sobretudo, lendo relatos. Nada substitui, para um etnógrafo,<br />

a leitura <strong>de</strong> etnografias, evi<strong>de</strong>ntemente completas; e essa preparação<br />

previa po<strong>de</strong> se aprimorar infinitamente se o etnógrafo dispõe também<br />

<strong>de</strong> uma certa cultura literária, que lhe oferecerá muitos recursos à<br />

hora <strong>de</strong> pôr no papel a sua experiência.<br />

Se você não tem essa cultura literária, se não se habituou a ler<br />

etnografias, se a sua pesquisa foi excelente e a sua formação teórica<br />

impecável e consegue discutir fluidamente os seus resultados com seu<br />

orientador ou com os seus colegas mas na hora <strong>de</strong> sentar a escrever<br />

sua <strong>de</strong>scrição uma espécie <strong>de</strong> náusea lhe tolhe a iniciativa, talvez seja<br />

<strong>de</strong>masiado tar<strong>de</strong>, e lhe falte algo fundamental. Porém, não <strong>de</strong>sespere.<br />

Mas não saia correndo atrás <strong>de</strong> alguma ferramenta teórica a<strong>de</strong>quada:<br />

relaxe e leia, por exemplo, umas novelas <strong>de</strong> Sherlock Holmes.<br />

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