digital - Comunidade Virtual de Antropologia
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Oscar Calavia Sáez<br />
e ritmo. Dentro <strong>de</strong> um discurso corrido, é fácil às vezes acumular<br />
argumentos sem um entrelaçamento claro. Na medida em que o<br />
discurso seja dividido em partes aparecerá mais clara também a<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar a articulação entre elas. O tamanho<br />
aproximado dos segmentos serve também para controlar a extensão<br />
dos argumentos que se <strong>de</strong>dicam a cada um dos pontos, a selecionar e<br />
eventualmente a sintetizar o discurso.<br />
Acima, embaixo; antes, <strong>de</strong>pois.<br />
O mo<strong>de</strong>lo autor-data das referências que costuma ser usado nas<br />
teses em antropologia no Brasil <strong>de</strong>scarta o uso das notas <strong>de</strong> rodapé<br />
como armazém <strong>de</strong> referencias –que no entanto continua sendo comum<br />
em outras aca<strong>de</strong>mias. Portanto, e se não houver alguma razão especial<br />
que assim o aconselhe, não <strong>de</strong>vem se incluir referencias nas notas <strong>de</strong><br />
rodapé. Essas razões especiais <strong>de</strong>vem ser excepcionais, e portanto não<br />
po<strong>de</strong>mos submete-las a regra.<br />
Livra-las <strong>de</strong> referencias permite às notas cumprir com clareza duas<br />
missões importantes, que po<strong>de</strong>m se reduzir a uma: hospedar as<br />
digressões.<br />
Em primeiro lugar, me refiro a breves digressões pensadas para<br />
esclarecer o texto principal mas que, com toda essa boa vonta<strong>de</strong>,<br />
ten<strong>de</strong>m a faze-lo confuso. Imaginemos que estou <strong>de</strong>senvolvendo um<br />
argumento já <strong>de</strong> si complicado, sobre um sistema <strong>de</strong> terminologia <strong>de</strong><br />
tipo crow-omaha. O sistema é difícil, minha explicação é difícil, mas<br />
acontece ainda que, junto às informações obtidas <strong>de</strong> outros nativos,<br />
estou dando um valor estratégico às que me foram dadas por um<br />
indivíduo <strong>de</strong>sviante: a diferença dos outros, é solteiro, passou boa parte<br />
<strong>de</strong> sua vida fora da al<strong>de</strong>ia e estudou antropologia. Quero <strong>de</strong>ixar claros<br />
esses pontos, mas isso exigiria interromper meu argumento para darlhes<br />
cabida. É o momento da nota, que colocará a um lado essas<br />
preciosas informações sem perturbar a regularida<strong>de</strong> da minha<br />
explicação. Isso sempre acontece, uma vez por outra, num texto; mas<br />
não <strong>de</strong>ve se multiplicar, porque a sua freqüência indicaria que não<br />
organizei <strong>de</strong>vidamente o meu texto. Para usar o mesmo exemplo, se na<br />
minha explicação do sistema crow-omaha <strong>de</strong>vo inserir não uma, mas<br />
uma pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> notas sobre as condições e o histórico das pessoas<br />
<strong>de</strong> que proce<strong>de</strong>m meus dados, é sinal <strong>de</strong> que eu <strong>de</strong>veria ter introduzido<br />
a minha análise com uma <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>sse universo <strong>de</strong> informantes.<br />
Em geral, as notas não <strong>de</strong>vem concorrer em tamanho com o texto<br />
principal, e menos ainda supera-lo. A reiteração <strong>de</strong> notas sobre um<br />
mesmo assunto, ou o crescimento <strong>de</strong>smesurado <strong>de</strong> alguma nota em<br />
particular, costumam ser sinais <strong>de</strong> que o que colocamos na nota<br />
<strong>de</strong>veria passar para o texto principal, com a <strong>de</strong>vida reorganização <strong>de</strong>ste.<br />
Nota: Todo mundo lembrará neste ponto <strong>de</strong> Max Weber, que fazia<br />
exatamente o que aqui se recomenda não fazer. Mas para começar Max<br />
Weber não usava o sistema autor/data, <strong>de</strong> modo que as suas notas são o<br />
lugar on<strong>de</strong> armazena as suas referências. E <strong>de</strong> resto é precisamente<br />
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