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digital - Comunidade Virtual de Antropologia

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Esse obscuro objeto da pesquisa<br />

O que é antropologia?<br />

Este capítulo –como os outros que se ocupam <strong>de</strong> teoria e método- é<br />

funcional, breve, pratico e ad hoc. Isto é: não preten<strong>de</strong> servir como<br />

uma introdução à antropologia para quaisquer leitores. Está dirigido a<br />

pesquisadores iniciantes que empreen<strong>de</strong>m a excêntrica tarefa <strong>de</strong><br />

elaborar uma tese em antropologia. Busca dar uma fundamentação a<br />

muitas recomendações mais práticas que serão feitas mais tar<strong>de</strong>. E só<br />

será plenamente entendido na medida em que os seus leitores<br />

conheçam, por outros textos ou nos seus cursos, <strong>de</strong>scrições mais<br />

extensas e profundas da história da disciplina, ou da sua existência<br />

atual em perpétua crise.<br />

Crise<br />

Basta olhar para aqueles palcos on<strong>de</strong> se expõe a gran<strong>de</strong> teoria do<br />

momento (aulas inaugurais, conferências nos congressos, textos<br />

<strong>de</strong>stacados nos programas) para perceber que o tema dominante<br />

continua sendo a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> da disciplina: i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, nem precisa ser<br />

dito, em crise.<br />

Essa crise, po<strong>de</strong>mos ouvir ou ler, tem varias faces: crise <strong>de</strong><br />

autorida<strong>de</strong>, objeto, representação. Ou seja: não está claro <strong>de</strong> que é que a<br />

antropologia fala; nem <strong>de</strong> quê modo po<strong>de</strong>ria ou <strong>de</strong>veria falar <strong>de</strong>sse<br />

objeto que não se sabe <strong>de</strong>finir. Nem sequer sabe-se se teria o direito <strong>de</strong><br />

faze-lo (alguém tem direito a falar por outros, ou pela Humanida<strong>de</strong> no<br />

seu conjunto?).<br />

Até aqui, nada muito peculiar: as crises alimentam a teoria, em<br />

qualquer ciência. Mas o que interessa aqui é <strong>de</strong> quê modo alimentam a<br />

antropologia.<br />

A crise já é antiga. Pessoalmente, fiquei sabendo <strong>de</strong>la em meados<br />

dos anos 80, e já era então uma crise madura, nascida <strong>de</strong>z, quarenta,<br />

setenta anos antes; não há sinais <strong>de</strong> que tenha acabado, embora tenha<br />

perdido o viço.<br />

Uma crise prolongada chega a ser em algum momento uma<br />

contradição nos termos. Até uma encruzilhada po<strong>de</strong> se tornar<br />

caminho, se optarmos por girar em volta <strong>de</strong>la, e algo disso <strong>de</strong>ve ter<br />

acontecido no caso que nos ocupa. A antropologia parece conviver<br />

muito bem com a crise. Muitas vozes sugerem que, precisamente por<br />

estar em crise permanente, a antropologia tornou-se uma disciplina<br />

crítica, que faz e <strong>de</strong>sfaz o mundo com os mesmos movimentos com<br />

que se faz e <strong>de</strong>sfaz a si mesma. A crise da antropologia é, assim, um<br />

dado positivo que evitou sua transformação em ciência normal; ou, em<br />

outros termos, que fez <strong>de</strong>la uma disciplina indisciplinada. Isso po<strong>de</strong> ser<br />

visto com olhos muito otimistas; é o caso do Brasil, on<strong>de</strong> as avaliações<br />

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