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digital - Comunidade Virtual de Antropologia

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Esse obscuro objeto da pesquisa<br />

constituindo um sistema <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>s atuais: uma bibliografia <strong>de</strong><br />

curso se valoriza pela presença <strong>de</strong> textos recentes, o mesmo critério<br />

que <strong>de</strong>svaloriza o recurso a uma biblioteca <strong>de</strong>satualizada (a melhor<br />

biblioteca sempre estará sujeita a esse risco).<br />

Nota: O recurso ao xerox começa a ser substituído, com evi<strong>de</strong>ntes<br />

vantagens, pelo uso <strong>de</strong> cópias digitais, o que po<strong>de</strong> resumir-se como a<br />

passagem da galáxia xerox à galáxia pdf. Boa parte do que foi dito<br />

daquela po<strong>de</strong>ria se aplicar igualmente a esta.<br />

O resultado po<strong>de</strong> se adivinhar ao examinar as listas bibliográficas<br />

das teses: elas se constitui pela consulta <strong>de</strong> um catalogo <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>s<br />

ad hoc, constituídas maioritariamente por artigos –também <strong>de</strong> livros,<br />

ou mais exatamente <strong>de</strong> excertos <strong>de</strong> livros, ou <strong>de</strong> livros que são na<br />

verda<strong>de</strong> coletâneas <strong>de</strong> artigos.<br />

Nada que objetar? O artigo costuma ser o item mais valorizado <strong>de</strong><br />

um curriculum, porque é o mais sujeito a controles <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, e<br />

também, por suas dimensões, o mais capaz <strong>de</strong> incorporar a vanguarda<br />

das investigações. Mas o artigo tem funções precisas <strong>de</strong>ntro da<br />

bibliografia e não po<strong>de</strong> resumi-la. Quando o faz, o resultado é um<br />

achatamento histórico, uma <strong>de</strong>pendência do estado atual das questões,<br />

uma tendência à mimetiza-lo.<br />

Não é incomum, por exemplo, que um aluno venha perguntar ao<br />

seu orientador por um artigo ao qual possa referir um conceito como<br />

etnia, cultura, perspectivismo ou estrutura. Via <strong>de</strong> regra, um artigo por<br />

si só não é a referência a<strong>de</strong>quada para algo <strong>de</strong> vida tão longa como um<br />

conceito. Seria melhor acudir a algo assim como uma enciclopédia ou<br />

um dicionário especializado, ou a repertórios bibliográficos que se<br />

publicam periodicamente (o BIB é um bom exemplo no Brasil).<br />

Curiosamente, um trabalho tão útil como o das resenhas o dos ensaios<br />

bibliográficos, que se publicam em abundância, é aproveitado pelos<br />

estudantes em medida muito menor do que caberia esperar. Todos<br />

esses recursos tem a mesma má fama dos manuais, e é claro que uma<br />

pesquisa não po<strong>de</strong> se basear principalmente neles; mas a sua exclusão<br />

leva a resultados igualmente dúbios. Não só priva o pesquisador <strong>de</strong><br />

uma fonte eficiente <strong>de</strong> informação, fazendo per<strong>de</strong>r pontos <strong>de</strong> vista que<br />

mais vale conhecer em síntese que <strong>de</strong>sconhecer totalmente, mas<br />

também <strong>de</strong>termina o modo em que o estudante cartografa o saber.<br />

Manuais ou enciclopédias, com todas as suas <strong>de</strong>ficiências, permitem<br />

<strong>de</strong>limitar melhor o domínio público e a contribuição privada, evitando<br />

ao leitor a ilusão <strong>de</strong> que a inovação <strong>de</strong> um artigo inovador se esten<strong>de</strong> a<br />

todo o que ele apresenta.<br />

Em termos gerais, a tendência que se revela nessa dieta <strong>de</strong> artigos é<br />

a <strong>de</strong> preferir o fragmento e fugir das sínteses, como se <strong>de</strong>sconhecer<br />

estas fosse o melhor modo <strong>de</strong> dar autonomia à própria.<br />

De resto, se as bibliotecas nunca são perfeitas ou estão longe disso,<br />

também poucas vezes são tão limitadas como é costume pregar. Essa<br />

limitação é em parte o efeito <strong>de</strong> criar listas canônicas <strong>de</strong> urgência, que<br />

permitem ler corporativamente um mesmo texto, em lugar <strong>de</strong><br />

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