22.06.2015 Views

digital - Comunidade Virtual de Antropologia

digital - Comunidade Virtual de Antropologia

digital - Comunidade Virtual de Antropologia

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Oscar Calavia Sáez<br />

Quem leia estas páginas será quase com certeza um acadêmico. No<br />

Brasil –a diferença <strong>de</strong> outros lugares on<strong>de</strong> o nome Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong>signa<br />

preferentemente algumas instituições <strong>de</strong> elite- “acadêmico” é quase<br />

sinônimo <strong>de</strong> “universitário”. O acadêmico estará muito provavelmente<br />

preparando (como aluno ou como orientador) uma dissertação ou tese,<br />

e a universida<strong>de</strong> lhe da os meios e o contexto necessários para faze-lo.<br />

É claro que esses meios e esse contexto têm sua <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> própria, isto<br />

é, incluem regras escritas, hábitos explícitos embora não escritos,<br />

pressupostos e reflexos muito vivos que po<strong>de</strong>m não estar escritos nem<br />

ser conscientes. Alguns são perfeitamente legítimos e o pesquisador<br />

fará muito bem em respeitá-los; outras vezes será bom que o mesmo<br />

pesquisador os conheça para não se ver atolado na sua <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>. Nas<br />

páginas a seguir refiro-me apenas a alguns aspectos <strong>de</strong>ssa vida<br />

acadêmica que, pela minha experiência, têm um forte influxo no<br />

modo <strong>de</strong> trabalhar do pesquisador iniciante e nem tão iniciante.<br />

O lugar da tese<br />

Boa parte da pesquisa científica assume a forma <strong>de</strong> uma tese, que é<br />

sempre projetada, <strong>de</strong>senvolvida, <strong>de</strong>fendida e arquivada numa<br />

universida<strong>de</strong>, ou centro similar. Não tiremos daí pressupostos<br />

<strong>de</strong>snecessários. Especialmente, não <strong>de</strong>ve se acreditar que a tese ou<br />

Universida<strong>de</strong> sejam os lugares da ciência; po<strong>de</strong> ou <strong>de</strong>ve haver ciência<br />

na tese, mas a ciência não é feita <strong>de</strong> teses; o universo também não. É<br />

muito comum que o acadêmico aja ou pense como se acreditasse nisso.<br />

De fato, um cidadão está alcançando um aca<strong>de</strong>micismo irreversível<br />

quando expressa seu interesse por qualquer aspecto do universo<br />

exclamando: “isso dá uma tese”! A Universida<strong>de</strong> é o lugar da tese, não<br />

o lugar da ciência.<br />

É verda<strong>de</strong> que as políticas científicas dos últimos cem anos têm ido<br />

concentrando a ciência na Universida<strong>de</strong>. Isso tem levado a um<br />

crescimento consi<strong>de</strong>rável da pesquisa, e também à sua normalização.<br />

Há uma velha polêmica sobre a maior ou menor eficiência que a<br />

Universida<strong>de</strong> mostra como centro <strong>de</strong> pesquisa. Muitos acham que essa<br />

eficiência é escassa porque a pesquisa acaba por ser incompatível (por<br />

falta <strong>de</strong> tempo e por algumas outras razões mais sutis) com as<br />

ativida<strong>de</strong>s docentes, e consi<strong>de</strong>ram preferível que se criem instituições<br />

<strong>de</strong>dicadas exclusiva ou quase exclusivamente à pesquisa. Outros<br />

acham o contrário, e contra-atacam com o lema da indissolubilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> pesquisa e ensino. Ou da indissolubilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pesquisa, ensino e<br />

extensão. Não vamos entrar por enquanto nessa polêmica, baste dizer<br />

que no Brasil a tripla indissolubilida<strong>de</strong> é doutrina oficial, e a pesquisa<br />

está quase integramente em mãos das universida<strong>de</strong>s.<br />

Mas o que está claro é que a relevância que a Universida<strong>de</strong> tem<br />

para a ciência é muito exagerada pelo discurso da instituição. Vejam-se,<br />

nas paginas web das universida<strong>de</strong>s, essas <strong>de</strong>clarações pomposas sobre<br />

82

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!