digital - Comunidade Virtual de Antropologia
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Oscar Calavia Sáez<br />
uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>vassa; afinal, os nativos sabem que o pesquisador<br />
pesquisa, e na medida em que concordaram com a pesquisa ten<strong>de</strong>m a<br />
oferecer a informação por própria iniciativa. Essa iniciativa em si já é<br />
um dado importante, nos da uma idéia daquilo que consi<strong>de</strong>ram digno<br />
e importante <strong>de</strong> ser comunicado; a interrogação <strong>de</strong>ve complementa-la,<br />
mas não substitui-la.<br />
De todos modos é muito possível que o nativo, com a convivência<br />
prolongada, venha a esquecer essa situação <strong>de</strong> pesquisa, e falar (por<br />
exemplo) como um confi<strong>de</strong>nte. A diferença entre a ética do etnógrafo<br />
e a do jornalista –que, por sua vez, dificilmente passa no lugar o tempo<br />
suficiente como para que alguém esqueça que ele é jornalista- está em<br />
que o etnógrafo nunca <strong>de</strong>ve aproveitar sem a <strong>de</strong>vida informação esse<br />
esquecimento.<br />
Informante, nativo, interlocutor.<br />
A questão do termo que <strong>de</strong>vemos usar para nos referir a esse sujeito<br />
que está à nossa frente quando atuamos como pesquisadores vem<br />
sendo tratada em termos <strong>de</strong> correção política: há uma certa<br />
preocupação por atribuir-lhe um termo a<strong>de</strong>quado, e portanto um<br />
termo. Não muitos anos atrás, ainda era “informante” a palavra mais<br />
comum para este uso, mas é cada vez mais raro encontra-la. Alguém<br />
lembrou um bom dia que era a mesma que a polícia aplica aos seus<br />
confi<strong>de</strong>ntes, e essa conotação resulta in<strong>de</strong>sejável. Mas mesmo sem ela,<br />
informante é, a maior parte das vezes, um mal termo: ele sugere um<br />
conjunto <strong>de</strong> dados preexistente que o informante nos transfere, mais<br />
ou menos como um funcionário <strong>de</strong> uma agencia local <strong>de</strong> turismo o<br />
faria com a lista <strong>de</strong> restaurantes, hotéis e museus <strong>de</strong> sua cida<strong>de</strong>. Numa<br />
pesquisa <strong>de</strong> campo, há ocasiões em que esperamos que esta ou aquela<br />
pessoa ajam, <strong>de</strong> fato, como informantes. Mas na maior parte do tempo<br />
essas mesmas pessoas, e muitas outras, agirão <strong>de</strong> outro modo que não<br />
o do informante: conversando conosco, opinando, interpretando,<br />
discutindo, ou simplesmente agindo –normalmente porém ante os<br />
nossos olhos, que é um matiz novo nessa ação. A palavra informante é<br />
a maior pare das vezes suficiente para <strong>de</strong>screver os sujeitos com os que<br />
tratamos numa <strong>de</strong>ssas pesquisas que alguém chamou “<strong>de</strong> varanda”,<br />
on<strong>de</strong> só tratamos com eles em hora marcada e com um propósito<br />
<strong>de</strong>finido, via <strong>de</strong> regra com algum questionário mais ou menos formal;<br />
fora <strong>de</strong>sse caso (a rigor muito pouco etnográfico, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que se impôs o<br />
mo<strong>de</strong>lo da observação participante) o informante é o nome <strong>de</strong> um<br />
papel, não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>signar a uma pessoa.<br />
Que tal usar nativo? Esse termo tem um certo prestígio <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />
se impôs na antropologia a reflexão sobre a relação entre o<br />
pesquisador e o nativo, e não é difícil encontra-lo <strong>de</strong>signando pessoas<br />
concretas: “meus nativos”. O problema é que o nativo é,<br />
fundamentalmente, O nativo, isto é, uma figura paradigmática que<br />
alcança todo o seu valor numa discussão abstrata, mas está cheia <strong>de</strong><br />
ruídos quando <strong>de</strong>screve situações concretas. Frases como “os nativos<br />
não compreendiam o meu interesse por tal ou qual cosa” ou “segundo<br />
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