digital - Comunidade Virtual de Antropologia
digital - Comunidade Virtual de Antropologia
digital - Comunidade Virtual de Antropologia
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Esse obscuro objeto da pesquisa<br />
tarefas técnicas são realizadas diretamente por máquinas). O é, em<br />
particular, na antropologia. Para <strong>de</strong>cepção dos iniciantes, as técnicas<br />
comumente usadas numa pesquisa antropológica raramente são<br />
técnicas específicas reservadas aos que alcançam a consagração<br />
profissional. Para <strong>de</strong>sespero dos iniciantes, também, são técnicas que<br />
raramente escapam, se é que alguma vez escapam, da incerteza da arte.<br />
Um bom exemplo: Pensemos na mais esotérica <strong>de</strong> todas as técnicas<br />
<strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong> um antropólogo –e, dito seja <strong>de</strong> passagem, uma das<br />
mais úteis-, a elaboração <strong>de</strong> diagramas <strong>de</strong> parentesco. Não é a rigor<br />
uma exclusiva dos antropólogos, mas se aproxima disso, já que os<br />
mapas dos geneticistas ou dos genealogistas <strong>de</strong>vem dar conta <strong>de</strong><br />
menos variáveis. O antropólogo po<strong>de</strong> exibir com orgulho os seus<br />
diagramas: são uma marca <strong>de</strong> prestígio, porque ninguém que não<br />
tenha transposto o limiar enten<strong>de</strong>rá gran<strong>de</strong> coisa <strong>de</strong>les. Mas ninguém<br />
sabe ao certo aon<strong>de</strong> está esse limiar. A parte estritamente técnica na<br />
confecção <strong>de</strong>sses diagramas se esgota bem antes que o investigador<br />
chegue aos verda<strong>de</strong>iros problemas. Sem ir mais longe, os <strong>de</strong> como<br />
apresentar os seus dados <strong>de</strong> um modo ao mesmo tempo rigoroso,<br />
expressivo e transparente. Um mapa genealógico, mesmo <strong>de</strong> uma<br />
comunida<strong>de</strong> muito pequena, po<strong>de</strong> alcançar um volume que exce<strong>de</strong> o<br />
publicável. Mesmo sem essa dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m material, o autor<br />
<strong>de</strong>ve chegar cedo a uma série <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões teóricas para as quais não<br />
po<strong>de</strong> se contar com uma guia estritamente técnica: quais dados vão ser<br />
incluídos nele, quais relações entre eles vão ser levadas para o<br />
primeiro plano ou relegadas a um segundo, ou silenciadas, etc. Num<br />
pequeno diagrama ilustrativo, a filiação e a aliança po<strong>de</strong>m ir lado a<br />
lado. Num diagrama etnográfico, habitualmente <strong>de</strong>vemos privilegiar<br />
uma <strong>de</strong>ssas dimensões, <strong>de</strong>ixando a outra quase ilegível. Por muito que<br />
Rivers tenha postulado a genealogia como uma espécie <strong>de</strong> garante da<br />
pesquisa empírica, <strong>de</strong> vínculo do pesquisador com a realida<strong>de</strong>, os<br />
diagramas são interpretações, para os quais fazem-se necessárias muita<br />
arte e teoria suficiente. São falsos autômatos, que <strong>de</strong>vem ser<br />
manipulados por um ator escondido –o que não impe<strong>de</strong> que o ator<br />
aprenda muito sobre o seu ofício fazendo esse papel. De vez em<br />
quando, encontra-se pelos corredores um estudante ou um colega à<br />
procura <strong>de</strong> um software que faça diagramas <strong>de</strong> parentesco. Há, <strong>de</strong> fato,<br />
muitos softwares que os fazem, mas nenhum <strong>de</strong>les trabalha na nossa<br />
ausência. Antes ou <strong>de</strong>pois, o usuário <strong>de</strong>scobre que o software não aceita<br />
matrimônios sucessivos, ou paternida<strong>de</strong> múltipla, ou parentesco<br />
espiritual, ou amiza<strong>de</strong> formal. Não é impossível que alguém <strong>de</strong>senhe<br />
softwares capazes <strong>de</strong> incluir todas essas variáveis, mas eles não <strong>de</strong>ixam<br />
<strong>de</strong> ser falsos autômatos, são softwares <strong>de</strong>senhados especificamente<br />
para uma pesquisa, que terão uma evi<strong>de</strong>nte utilida<strong>de</strong> quando se trate<br />
<strong>de</strong> aplicar poucos critérios a uma enorme massa <strong>de</strong> dados, e uma<br />
utilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>crescente na medida em que esse balanço se inverta.<br />
Nunca, em qualquer caso, chegarão a conclusões por si sós.<br />
Mas o universo das técnicas é muito mais vasto e aberto do que<br />
sugere esse exemplo. A fotografia e a cinematografia, a elaboração <strong>de</strong><br />
49