22.06.2015 Views

digital - Comunidade Virtual de Antropologia

digital - Comunidade Virtual de Antropologia

digital - Comunidade Virtual de Antropologia

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Esse obscuro objeto da pesquisa<br />

sessões xamânicas. Fazer o quê: distribuirei meus dados da melhor<br />

maneira possível nos capítulos pré-<strong>de</strong>finidos; tentarei preencher os<br />

vazios muito evi<strong>de</strong>ntes, por exemplo com informações <strong>de</strong> etnografias<br />

mais antigas ou <strong>de</strong> povos próximos, é claro que estabelecendo sem<br />

dúvida que são informações tomadas <strong>de</strong> empréstimo que só tem um<br />

valor aproximativo, e explicando como e por quê não disponho <strong>de</strong><br />

minhas informações próprias. E enfim, o que nas opções 1ª e 2ª<br />

constitui a linha do argumento, torna-se neste mo<strong>de</strong>lo monográfico<br />

um conjunto <strong>de</strong> remissões internas que, em cada capítulo, vai<br />

indicando as relações que i<strong>de</strong>ntifico entre uns temas e outros. Por sorte,<br />

acabar falando em mitologia é muito comum nas monografias, <strong>de</strong><br />

modo que quanto a isso não preciso alterar a or<strong>de</strong>m do que foi a<br />

minha pesquisa.<br />

Conscientemente ou não, todas as etnografias são compromissos<br />

entre a sua própria história <strong>de</strong> pesquisa, as convenções <strong>de</strong> sumário do<br />

gênero monográfico, e os mo<strong>de</strong>los mais estimados que o autor<br />

encontrou nas suas leituras. O importante, em qualquer caso, é saber<br />

que quem empreen<strong>de</strong> a escrita <strong>de</strong> uma tese nunca está absolutamente<br />

<strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> uma estrutura ou roteiro <strong>de</strong> seu relato. Isso já vem dado,<br />

legitimamente, pelo próprio percurso da sua pesquisa, que, na falta <strong>de</strong><br />

outro esquema mais interessante, já é capaz em si <strong>de</strong> dar conta da<br />

exposição. Esse ponto <strong>de</strong> partida que escolhemos não nos compromete<br />

a uma narração fixa: ele po<strong>de</strong> ser, por boas razoes (entenda-se, por<br />

razoes intrínsecas à nossa <strong>de</strong>scrição) <strong>de</strong>scartado e substituído, ou<br />

parcialmente alterado.<br />

Quando acabar?<br />

Fechar uma tese po<strong>de</strong> chegar a ser uma empresa mais angustiosa<br />

que abri-la. Porque, evi<strong>de</strong>ntemente, o final <strong>de</strong> uma tese não é o final <strong>de</strong><br />

uma fileira <strong>de</strong> cachorros: é um momento substantivo, não uma<br />

interrupção brusca. O final <strong>de</strong> uma tese não é apenas o momento em<br />

que se expõem suas conclusões: a estrutura da tese <strong>de</strong>ve conduzir<br />

suavemente a essas conclusões. E uma tese também não po<strong>de</strong> acabar<br />

no estilo da música pop, repetindo o refrão enquanto o volume vai<br />

<strong>de</strong>scendo aquém do limiar <strong>de</strong> audição. Há muitos maus modos <strong>de</strong><br />

acabar uma tese, esses três são alguns dos mais comuns.<br />

Em geral, se o autor consegue <strong>de</strong>finir um bom ponto <strong>de</strong> partida, e<br />

consegue não misturar às suas perguntas iniciais as suas respostas e os<br />

seus argumentos, o problema <strong>de</strong> quando acabar está já resolvido,<br />

porque a forma básica do relato conclui com uma volta ao início.<br />

Vejam-se os contos <strong>de</strong> fadas: em sua maior parte, começam com um<br />

lar, feliz até que algo acontece, e acabam com uma felicida<strong>de</strong><br />

restaurada nesse lar ou em algum outro equivalente. Com algumas<br />

mudanças, é claro. Se a situação final fosse exatamente igual que a<br />

inicial nada teria acontecido; mas se aquela situação inicial não<br />

comparecesse <strong>de</strong> novo no final da ação não haveria como comprovar<br />

197

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!