22.06.2015 Views

digital - Comunidade Virtual de Antropologia

digital - Comunidade Virtual de Antropologia

digital - Comunidade Virtual de Antropologia

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Esse obscuro objeto da pesquisa<br />

inserem <strong>de</strong>ntro das práticas comunicativas em vigor no campo, e saber<br />

<strong>de</strong>stas é tão importante quanto obter informação.<br />

Nota: Na antropologia brasileira não é muito comum uma técnica<br />

<strong>de</strong> interrogação que tem alguma relação com o que acabamos <strong>de</strong> dizer,<br />

e que é muito comum em outros campos das ciências sociais e sociais<br />

aplicadas. Me refiro ao “grupo <strong>de</strong> discussão”, ou “grupo focal” ou seja,<br />

um grupo <strong>de</strong> pessoas, em princípio não relacionadas entre si, que são<br />

convidadas para tratar <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado tema <strong>de</strong> interesse da nossa<br />

pesquisa. O pesquisador mo<strong>de</strong>ra e grava essa discussão. É fácil<br />

encontrar referencias a essa técnica, que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> interesse<br />

para muitos temas <strong>de</strong> pesquisa, sobretudo no meio urbano.<br />

Se essa técnica não é muito usada na antropologia, pelo menos na<br />

antropologia brasileira, é porque é pouco viável, e ainda menos útil,<br />

em pesquisas que tratam <strong>de</strong> grupos pequenos com gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vínculos (uma al<strong>de</strong>ia indígena, por exemplo). Mas também porque<br />

a etnografia da uma priorida<strong>de</strong> indiscutível à comunicação que se<br />

encontra no campo. Antes que saber o que um grupo <strong>de</strong> pessoas<br />

pensam, por exemplo, sobre a corrupção política, interessa saber se há<br />

situações espontâneas em que esse tema vira centro <strong>de</strong> conversas<br />

“reais”.<br />

O princípio é o mesmo que rege o crescendo formal das entrevistas.<br />

Nada impe<strong>de</strong> que, em qualquer situação, <strong>de</strong>senvolvamos entrevistas<br />

formais, grupos <strong>de</strong> discussão e até apliquemos extensamente esses<br />

questionários que são o pão <strong>de</strong> cada dia dos sociólogos. Mas esse modo<br />

<strong>de</strong> interrogar on<strong>de</strong> as respostas <strong>de</strong>vem achar seu lugar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um<br />

quadro organizado pelas perguntas, na etnografia <strong>de</strong>vem APENAS<br />

aparecer quando a pesquisa já se encontra numa fase madura, tendo<br />

passado por um período suficiente <strong>de</strong> observação, escuta e diálogos e<br />

entrevistas muito mais informais, on<strong>de</strong> o entrevistador não pergunte<br />

no sentido estrito do termo, mas sugira temas e interesses e<br />

acompanhe liberalmente os rumos –que às vezes po<strong>de</strong>m lhe parecer<br />

erráticos- da conversa. Esses diálogos abertos são os que nos darão<br />

subsídios para, mais adiante, po<strong>de</strong>r fazer, se for necessário, indagações<br />

muito mais direcionadas; na etnografia nunca po<strong>de</strong> se fazer ao<br />

contrario.<br />

Isto é, as entrevistas abertas <strong>de</strong>vem aparecer antes que qualquer<br />

outro tipo <strong>de</strong> entrevistas, e <strong>de</strong>vem ser efetivamente abertas. O<br />

pesquisador <strong>de</strong>ve explicar qual é o tema sobre o qual quer que seu<br />

interlocutor fale, e <strong>de</strong>ve explica-lo com todo o <strong>de</strong>talhe necessário até<br />

que o interlocutor tenha chegado a uma conclusão a esse respeito. Mas<br />

não alem disso. Ao longo da entrevista, o entrevistador <strong>de</strong>ixará falar o<br />

seu interlocutor, evitando o reflexo (muito marcado em algumas<br />

pessoas) <strong>de</strong> reconduzir o diálogo quando estima que este está se<br />

per<strong>de</strong>ndo em assuntos que não são relevantes. Por <strong>de</strong>finição, o<br />

entrevistador não sabe quais assuntos são relevantes. Po<strong>de</strong> ser que o<br />

entrevistado comece a falar do casamento <strong>de</strong> suas filhas quando o<br />

pesquisador quer saber das suas opiniões políticas; este fará bem em<br />

161

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!