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digital - Comunidade Virtual de Antropologia

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Esse obscuro objeto da pesquisa<br />

Nota: Há uma objeção séria a isto. O papel tem comprovado sua<br />

perdurabilida<strong>de</strong> durante séculos; os suportes digitais estão ainda para<br />

comprova-la. Há <strong>de</strong> fato duas evidências em contrario: uma<br />

consi<strong>de</strong>rável fragilida<strong>de</strong> do suporte (<strong>de</strong>struído pela umida<strong>de</strong>, o calor<br />

ou outras alterações com muita mais facilida<strong>de</strong> que o papel) e a<br />

insofrível criativida<strong>de</strong> dos programadores, que torna rapidamente<br />

obsoletos e ilegíveis documentos gravados poucos anos atrás. Mas<br />

sejam ou não eficientes os remédios que se ponham a esses problemas,<br />

passar para o papel materiais <strong>de</strong> cuja preservação queiramos estar<br />

seguros não é mais a solução <strong>de</strong> conjunto. Essa precaução é impotente<br />

perante a multiplicação <strong>de</strong> dados provocada por essa tecnologia<br />

insegura: se quisermos preservar ao modo tradicional, <strong>de</strong>veremos<br />

guardar alguma mesura tradicional.<br />

É claro que a transcrição será necessária, como transcrição ad hoc,<br />

quando <strong>de</strong>cidamos incluir um fragmento <strong>de</strong> uma fala, ou um trecho<br />

<strong>de</strong> uma entrevista, na nossa tese. Mas não tem sentido que nos<br />

<strong>de</strong>votemos a uma inacabável transcrição preventiva: essa transcrição<br />

será feita no momento em que tenhamos escolhido o fragmento ou o<br />

dialogo.<br />

A triagem, portanto, <strong>de</strong>verá ser sintética. Po<strong>de</strong> assumir uma forma<br />

muito simples, a <strong>de</strong> um roteiro cronometrado que sirva <strong>de</strong> índice <strong>de</strong><br />

cada uma das gravações, algo com uma forma mais ou menos assim.<br />

00:01 X se apresenta.<br />

00:10 Relato das brigas com o fazen<strong>de</strong>iro Z por causa dos<br />

limites <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>...<br />

00: 20 A esposa <strong>de</strong> X entra trazendo um café e diz ao seu<br />

marido que não <strong>de</strong>veria estar falando <strong>de</strong>ssas coisas.<br />

00:22 X começa a falar <strong>de</strong> como as mulheres se<br />

comportam, tento voltar ao tema inicial mas ele continua a<br />

falar das suas anteriores esposas.<br />

00:32 Aparece um vizinho, X conversa largamente com<br />

ele sobre casos <strong>de</strong> corrupção na prefeitura.<br />

00:40 Passa um carro com propaganda eleitoral do<br />

partido Tal, X faz caretas.<br />

.............<br />

01:37 X boceja e me pergunta se não estou com fome.<br />

Como po<strong>de</strong>mos ver, não se trata <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>scrição por extenso do<br />

que acontece e se diz durante a entrevista –o que acabaria sendo o<br />

mesmo que uma transcrição- mas uma seleção direcionada pelos meus<br />

interesses <strong>de</strong> pesquisa –que neste caso parecem centrados em questões<br />

políticas. Devo anotar esse roteiro a partir <strong>de</strong> uma idéia já bem<br />

fundada do que me interessa, embora guar<strong>de</strong> a atenção suficiente a<br />

aspectos imprevistos que possam alterar essa idéia.<br />

Mesmo assim, a elaboração <strong>de</strong>ste roteiro será longa, durará um<br />

tempo in<strong>de</strong>terminado cujo limite mínimo é a duração da própria<br />

gravação, sem haver um máximo.<br />

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