22.06.2015 Views

digital - Comunidade Virtual de Antropologia

digital - Comunidade Virtual de Antropologia

digital - Comunidade Virtual de Antropologia

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Esse obscuro objeto da pesquisa<br />

engenharia social-, não há um efeito técnico que possa se distinguir<br />

claramente da divulgação.<br />

Mas, tentando <strong>de</strong>talhar um pouco mais: o que <strong>de</strong>ve ser comum<br />

nessa linguagem? As linguagens especializadas não levam muito<br />

longe as tentativas <strong>de</strong> se afastar da sintaxe padrão. A especialização<br />

aponta ao léxico: um glossário po<strong>de</strong> ser um instrumento legítimo num<br />

trabalho que apresente um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> conceitos novos; mas<br />

um glossário <strong>de</strong>masiado amplo significa quase que inevitavelmente o<br />

fracasso do empreendimento. Pior que esse é aquele caso em que o<br />

glossário é impossível, porque nem sequer nesse metatexto é possível<br />

estabelecer uma conexão satisfatória entre o idiolecto criado ou<br />

adaptado pelo autor e o léxico comum –o que po<strong>de</strong> significar<br />

simplesmente que o produto da pesquisa se limita a uma fantasia<br />

verbal.<br />

Mas a linguagem comum afeta igualmente ao modo <strong>de</strong> exposição,<br />

à estrutura do texto. O apelo pós-mo<strong>de</strong>rnista a novas formas <strong>de</strong><br />

expressão etnográfica é, em si, bem vindo –embora, a rigor, pouco<br />

respondido na produção. Mas po<strong>de</strong> suscitar sérias dúvidas se, num<br />

movimento paralelo à do informalismo nas artes plásticas, ele<br />

simplesmente reage negativamente às formas consagradas às custas <strong>de</strong><br />

uma falência comunicativa. Sabemos bem quais são essa formas<br />

consagradas: o relato, o diálogo, a <strong>de</strong>scrição, etc. A rigor, é difícil dizer<br />

algo sem cair nas malhas <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>ssas formas; a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

encontrar outras novas não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scartada, mas é um <strong>de</strong>safio<br />

muito consi<strong>de</strong>rável.<br />

O uso <strong>de</strong> uma linguagem comum não precisa ser sempre uma<br />

redução, pelo contrário ela po<strong>de</strong> significar com freqüência o uso <strong>de</strong><br />

recursos mais amplos <strong>de</strong> expressão. Assim, abre-se a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

que as metáforas –cujo uso faz parte da linguagem comum- sejam<br />

utilizadas no texto enquanto tais metáforas, sem forçar a sua<br />

transformação em conceitos (que sempre comporta o risco <strong>de</strong> uma<br />

outra transformação oculta <strong>de</strong>sses conceitos em coisas).<br />

Todas essas observações, que po<strong>de</strong>m beirar o senso comum mais<br />

raso, se fazem necessárias porque nunca falta nas ciências humanas<br />

um prurido por mimetizar a aparência críptica <strong>de</strong> outras ciências. Os<br />

pesquisadores iniciantes, candidatos ao ingresso na corporação, são<br />

especialmente vulneráveis a essa tentação. Quando não controlada, a<br />

tentação po<strong>de</strong> dar lugar à produção <strong>de</strong> diferença diacrítica em relação<br />

ao discurso vulgar; diacrítica porque a diferença se concentra no estilo<br />

e na expressão, sem que a mensagem passe <strong>de</strong> uma reformulação em<br />

termos especializados do senso comum. Para isso seria preferível<br />

seguir usando aquele latim que séculos atrás ainda servia para<br />

diferenciar os doutos.<br />

77

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!