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digital - Comunidade Virtual de Antropologia

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Oscar Calavia Sáez<br />

da teoria ou do método que supor que, por estar muito longe das<br />

formas que estes tomam nas ciências duras, as ciências humanas<br />

prescin<strong>de</strong>m da uma e do outro.<br />

Quando se fala em teoria científica po<strong>de</strong> parecer que esta seja um<br />

texto específico, ou um conjunto <strong>de</strong> fórmulas, situados fora do<br />

trabalho <strong>de</strong>scritivo. Mas, como acabamos <strong>de</strong> ver, essa é apenas uma<br />

manifestação final da teoria: a seleção e a <strong>de</strong>finição dos dados, a sua<br />

organização, as suas regularida<strong>de</strong>s fazem parte igualmente da teoria, e<br />

o fato <strong>de</strong> que uma teoria não se explicite não significa que ela não<br />

esteja aí a organizar o texto. Basta que ela seja suscetível <strong>de</strong> ser<br />

explicitada.<br />

Explicitar uma teoria po<strong>de</strong> ser muito conveniente para que o leitor<br />

<strong>de</strong> um texto compreenda o seu alcance e tenha mais subsídios para<br />

<strong>de</strong>bater, concordar ou discordar; mas isso não é, no limite,<br />

imprescindível.<br />

É mais necessário que o autor do trabalho seja consciente da teoria<br />

que está a usar, e portanto seja capaz <strong>de</strong> explicitá-la. Essa condição nem<br />

sempre se da, simplesmente porque as teorias são com freqüência<br />

usadas como mo<strong>de</strong>los que não são teorias. Isto é: o pesquisador<br />

reproduz os pressupostos, a seleção <strong>de</strong> dados e o léxico que ele<br />

encontrou em outros trabalhos que lhe servem <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo, ou<br />

simplesmente no sentido comum, que naturalmente não está isento <strong>de</strong><br />

teoria. Nessas condições, ele não está atento a esse atributo básico que<br />

é a transformabilida<strong>de</strong> da teoria. Não há teoria efetiva se o autor não é<br />

consciente das possibilida<strong>de</strong>s que está <strong>de</strong>scartando. Por isso é<br />

importante lembrar sua condição <strong>de</strong> construção imaginária: a<br />

maturida<strong>de</strong> teórica <strong>de</strong> uma pesquisa só existe quando o autor é capaz<br />

<strong>de</strong> imaginar a quê outras conclusões chegaria caso lhe aplicasse outra<br />

variante teórica.<br />

É preciso <strong>de</strong>finir melhor o que quero dizer aqui com “usar uma<br />

teoria” ou “aplicar uma teoria”. Tal como a estou <strong>de</strong>screvendo aqui, a<br />

teoria <strong>de</strong>ve ser o trabalho pessoal <strong>de</strong> cada autor: ela está presente na<br />

busca e na organização dos seus dados, está implícita na forma em que<br />

os <strong>de</strong>screve e finalmente se explicita como uma síntese <strong>de</strong>sse trabalho,<br />

que <strong>de</strong>ve po<strong>de</strong>r ser comparada a outras. Nesse <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> comparação se<br />

situa isso que chamo <strong>de</strong> usar ou aplicar: é obvio que qualquer autor,<br />

sobretudo o pesquisador iniciante, vai <strong>de</strong>senvolver sua pesquisa e sua<br />

teoria <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma coor<strong>de</strong>nadas já dadas por alguma gran<strong>de</strong> teoria,<br />

e seguramente também por outras teorias <strong>de</strong> alcance menor. O fará,<br />

inclusive, em paralelo com outras pesquisas <strong>de</strong> alcance semelhante à<br />

<strong>de</strong>le mesmo. Esses mo<strong>de</strong>los servirão <strong>de</strong> referência ao seu próprio<br />

mo<strong>de</strong>lo. Mas isso não quer dizer que possa se limitar a reproduzi-los,<br />

ou a, simplesmente fazer encaixar seus próprios dados <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>les:<br />

seu mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>ve ser uma variação daqueles, nunca uma simples<br />

reprodução. Nem que <strong>de</strong>va ser tão fiel às suas afinida<strong>de</strong>s teóricas que<br />

<strong>de</strong>scarte ensaios <strong>de</strong> comparação com teorias outras: a infi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> bem<br />

fundamentada po<strong>de</strong> ser um final muito digno <strong>de</strong> um percurso teórico.<br />

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