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digital - Comunidade Virtual de Antropologia

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Esse obscuro objeto da pesquisa<br />

lendo Max Weber como po<strong>de</strong>mos perceber os inconvenientes <strong>de</strong><br />

organizar o texto como Max Weber o faz.<br />

Mas, em segundo lugar, as notas são o espaço para a digressão: se<br />

pensarmos o texto principal como uma linha - mais ou menos reta,<br />

mais ou menos curva-, as digressões po<strong>de</strong>m ser bem linhas secundarias<br />

que partem da principal e se afastam <strong>de</strong>la, bem laços que saem <strong>de</strong>la,<br />

se curvam e voltam a entrar. Enfim, não creio necessário, na verda<strong>de</strong>,<br />

explicar o que é uma digressão. As do primeiro tipo servem,<br />

habitualmente, para indicar possíveis objetos <strong>de</strong> pesquisa que o mesmo<br />

autor preten<strong>de</strong> abordar ou já abordou em outra ocasião, ou que ele<br />

oferece graciosamente a quem se interesse por eles. Ou, no segundo<br />

caso, po<strong>de</strong>m ser em si mesmas breves análises colaterais que –isto é<br />

importante-, não têm função no <strong>de</strong>senvolvimento do argumento do<br />

texto. Se o tem, <strong>de</strong>veriam subir da nota para o corpo do texto porque,<br />

mesmo parecendo digressões, seriam então premissas.<br />

Como norma, po<strong>de</strong>ríamos estabelecer o seguinte: é claro que a<br />

leitura da tese completa, com as suas notas, é a i<strong>de</strong>al; mas a<br />

distribuição texto/notas <strong>de</strong>ve ser feita <strong>de</strong> modo que ninguém corra o<br />

perigo <strong>de</strong> não enten<strong>de</strong>r, ou não avaliar bem o conjunto se o ler<br />

prescindindo <strong>de</strong>stas últimas.<br />

Já foi dito que notas <strong>de</strong> esclarecimento <strong>de</strong>veriam ser exceções.<br />

Quanto às notas digressivas, não há nenhum critério que recomen<strong>de</strong><br />

sua limitação, a não ser o óbvio da economia <strong>de</strong> tempo do pesquisador.<br />

Páginas atrás, usou-se a analogia <strong>de</strong> um romance <strong>de</strong> mistério para<br />

falar da or<strong>de</strong>m do relato. Isso não é um incentivo ao uso <strong>de</strong>, digamos,<br />

temperos recreativos que façam mais atrativo o trabalho científico. É<br />

uma conseqüência do fato <strong>de</strong> que a estrutura <strong>de</strong> um argumento é a<br />

mesma quando se trata da resolução <strong>de</strong> um crime ficcional e quando<br />

se trata da construção <strong>de</strong> um objeto científico. As regras do método <strong>de</strong><br />

um bom romance policial, aliás, incluem um mandamento que é<br />

também aplicável a uma boa tese: os elementos pelos quais o <strong>de</strong>tetive<br />

é capaz <strong>de</strong> resolver o caso não po<strong>de</strong>m ser ocultados ao leitor. Seria pífio<br />

que aquele <strong>de</strong>scobrisse o assassino graças a umas pegadas<br />

ensangüentadas das quais o leitor não tinha ouvido falar. O autor <strong>de</strong>ve<br />

ser capaz <strong>de</strong> falar <strong>de</strong>las sem que o leitor consiga tirar <strong>de</strong>las a conclusão<br />

que o <strong>de</strong>tetive (para isso ele é o herói) tirará no final. Mal que pese às<br />

muitas analogias, uma tese não é um romance <strong>de</strong> mistério. Nada há <strong>de</strong><br />

mau em que o leitor se surpreenda com o <strong>de</strong>sfecho, mas o objetivo da<br />

<strong>de</strong>scrição não é surpreen<strong>de</strong>-lo, e sim convence-lo com o argumento.<br />

Isso quer dizer que os elementos cruciais do nosso argumento <strong>de</strong>vem<br />

ser claramente <strong>de</strong>stacados, e a argumento em si o mais transparente<br />

que possível. Isso se consegue com um a<strong>de</strong>quado sistema <strong>de</strong><br />

referências internas, que <strong>de</strong>ve ser construído sem medo <strong>de</strong> reiterações.<br />

Ou seja, se num romance <strong>de</strong> mistério é aceitável que o leitor se perca<br />

<strong>de</strong>ntro do labirinto até um certo ponto, numa tese é necessário que ele<br />

possa se apoiar numa boa sinalização, em indicações, todo o constantes<br />

que seja necessário, <strong>de</strong> que <strong>de</strong>terminadas claves já foram expostas na<br />

página 16, ou <strong>de</strong> que outras o serão na página 114. A presença <strong>de</strong>sse tipo<br />

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