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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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Recife, cida<strong>de</strong> roubada 8 adota uma linguagem publicitária para atacar o projeto Novo Recife.<br />

A sensação é a <strong>de</strong> que se está diante <strong>de</strong> uma peça <strong>de</strong> propaganda política feita para convencer o<br />

eleitor a votar contra o projeto, como se um plesbicito estivesse em pauta. A estratégia usada para<br />

rebaixar o discurso do consórcio é a ironia. O texto diz: “Nem tudo que é novo é bom, e nem tudo o<br />

que é novo, é novo. O projeto novo Recife, nem é novo, nem é bom.”; “O novo do Novo Recife só é<br />

novo no nome”. Toda a ca<strong>de</strong>ia argumentativa busca mostrar que o consórcio, em aliança com o<br />

po<strong>de</strong>r público, repete uma prática antiga das construtoras e empreiteiras <strong>de</strong> utilizar uma área nobre<br />

da cida<strong>de</strong> para construção <strong>de</strong> obras caras, <strong>de</strong>stinadas à elite, muitas vezes provocando com isso a<br />

expulsão da população <strong>de</strong> periferia que sofre com o déficit habitacional e mora em situação <strong>de</strong><br />

vulnerabilida<strong>de</strong>. Para passar essa mensagem <strong>de</strong> forma convincente, o ví<strong>de</strong>o usa diferentes recursos<br />

amplamente empregados pelo marketing político: entrevistas com figuras <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> e populares,<br />

imagens <strong>de</strong> arquivo, imagens especialmente produzidas para a peça audiovisual, computação<br />

gráfica, cenas ficcionais e um apresentador conhecido do público. Cabe ao artista Jurandir Santos<br />

atuar como uma espécie <strong>de</strong> apresentador, <strong>de</strong> garoto-propaganda da causa. Do ponto <strong>de</strong> vista visual,<br />

a produção é ousada. Há, inclusive, tomadas aéreas da paisagem urbana da cida<strong>de</strong>. Ao final, uma<br />

série <strong>de</strong> pessoas aparece repetindo o slogan: “Eu sou contra o projeto Novo Recife, eu sou a favor do<br />

projeto Recife”. Fica acentuada a i<strong>de</strong>ia aqui <strong>de</strong> disputa e <strong>de</strong> que o ví<strong>de</strong>o funciona como uma espécie<br />

<strong>de</strong> propaganda política.<br />

Diversida<strong>de</strong> estética & unida<strong>de</strong> política<br />

Pela <strong>de</strong>scrição dos ví<strong>de</strong>os acima, percebe-se que o fluxo dos acontecimentos condiciona a<br />

urgência, o formato e a função comunicativa dos ví<strong>de</strong>os produzidos. Por exemplo, se algo é notícia,<br />

um teor jornalístico se impõe. É preciso estar diante dos fatos para registrá-los e fazê-los circular. É o<br />

que ocorre com as imagens da reintegração <strong>de</strong> posse e da ocupação da Prefeitura. No primeiro caso,<br />

a intenção maior é <strong>de</strong>nunciar a violência da reintegração; no segundo, o objetivo é revelar a<br />

indisposição da PCR em negociar com o Movimento e também manter o engajamento dos militantes.<br />

Vale lembrar que se, por um lado, o caráter noticioso aproxima tais ví<strong>de</strong>os do jornalismo, a forma<br />

como essas imagens aparecem nos filmes confere-lhes também um distanciamento da prática<br />

8 13m:38s. Realização: Ernesto <strong>de</strong> Carvalho, Leon Sampaio, Luis Henrique Leal, Marcelo Pedroso, Pedro<br />

Severien.<br />

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