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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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fundar uma era em que questões pessoais tornaram-se conscientemente politizadas (RENOV, 1999,<br />

p. 89).<br />

Embora o autor acredite que esse clima cultural se refletisse no oci<strong>de</strong>nte, não dá para<br />

concordar que sua observação se aplique aos países oci<strong>de</strong>ntais indistintamente. Acreditamos que os<br />

contextos históricos próprios <strong>de</strong> cada local po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>terminar suas culturas. No Brasil, por exemplo,<br />

só a partir dos anos 2000 se observa certa efusão da subjetivida<strong>de</strong> da primeira pessoa nos<br />

documentários e não entre os 1970 e os 1990, como fora nos Estados Unidos. O próprio Renov<br />

parece fazer uma revisão do que diz em seu livro publicado cinco anos <strong>de</strong>pois, “The subject of<br />

documentary” (2004). Nele, sugere que “a tendência autobiográfica seja uma manifestação norteamericana”,<br />

embora não exclusiva (RENOV, 2005, p. 239; 241).<br />

Pablo Piedras reconhece a recorrência da primeira pessoa nos documentários argentinos<br />

recentes e observa que boa parte <strong>de</strong>les foi realizada por cineastas que moram no exterior e/ou que<br />

foram formados fora <strong>de</strong> seu país, e acredita po<strong>de</strong>r transferir essa observação a outros países da<br />

América Latina. Piedras ainda sugere relação <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> documentário na Argentina com o retorno<br />

da <strong>de</strong>mocracia em seu país, em 1983, “pela urgência <strong>de</strong> abordar o passado recente e as<br />

problemáticas sócio-politicas vigentes” (PIEDRAS, 2014, p. 46).<br />

Essa tendência não se manifesta com força no Brasil antes dos anos 2000, quando surgem<br />

documentários autobiográficos, na maioria dirigidos por mulheres. Neles, é igualmente cabível<br />

perceber certa condição estrangeira entre algumas das diretoras.<br />

Helena Solberg parece uma exceção ao explorar sua subjetivida<strong>de</strong> a partir <strong>de</strong> vozes <strong>de</strong><br />

outras mulheres no primeiro filme e ao acentuar visivelmente essa característica 28 anos <strong>de</strong>pois,<br />

quando se reaproxima fortemente do Brasil com Carmen Miranda. É evi<strong>de</strong>nte, em muitas passagens<br />

<strong>de</strong>sse filme, o <strong>de</strong>sejo da cineasta em refletir o próprio trajeto que traçara para sua vida e se colocar<br />

no lugar da cantora que, assim como ela, morou um longo período nos Estados Unidos.<br />

Por outro lado, isso não significa que Solberg tenha se fixado ao pessoal ou às subjetivida<strong>de</strong>s<br />

autorreferenciais em toda sua obra. Seus filmes realizados nos Estados Unidos, em geral feitos para<br />

a televisão, têm um caráter <strong>de</strong> engajamento político e assumem estruturas mais tradicionais. Para<br />

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