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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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colegas. Mas como falar <strong>de</strong> um filme que não foi realizado? Que espécie é essa <strong>de</strong> material que<br />

constitui um roteiro não filmado? A transposição <strong>de</strong>ssa experiência <strong>de</strong> leitura para a investigação<br />

acadêmica exigia a construção <strong>de</strong> uma postura teórica e metodológica capaz <strong>de</strong> investigar projetos<br />

<strong>de</strong>sfeitos, roteiros inacabados, filmagens abandonadas, copiões nunca montados, esquecidos ou<br />

fracassados. Esse material compõe o gran<strong>de</strong> universo "fora <strong>de</strong> quadro" do cinema, juntamente com<br />

os escritos, críticas, <strong>de</strong>bates, ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> anotações, fotos, relatos e tantos outros documentos<br />

produzidos além das obras entregues ao público.<br />

Assim, a postura assumida foi consi<strong>de</strong>rar que SSS Contra Jovem Guarda não pertence ao<br />

universo fílmico, mas certamente habita o campo cinematográfico. A proposta, portanto, é tratar o<br />

roteiro encontrado como documento <strong>de</strong> um processo criativo. O trabalho com roteiros, afirma Josette<br />

Monzani, permite “conduzir ao <strong>de</strong>svelamento <strong>de</strong> camadas arqueológicas da obra” (2006, p.99). Essas<br />

camadas apontam caminhos, confluências e possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> “fazer renascer ou, como quer Haroldo<br />

<strong>de</strong> Campos, <strong>de</strong>smorrer aspectos importantes do imaginário coletivo brasileiro” (MONZANI, 2006, p.<br />

99).<br />

O material <strong>de</strong> arquivo pesquisado<br />

A discussão <strong>de</strong>sse texto se concentra no roteiro classificado durante as leituras como “última<br />

versão”. Os tratamentos <strong>de</strong>positados na <strong>Cinema</strong>teca Brasileira - quatro versões do mesmo roteiro -<br />

não indicam claramente qual seria a versão final. O material consultado nem mesmo permite concluir<br />

se o trabalho <strong>de</strong> redação foi finalizado ou não. A <strong>de</strong>nominada “última versão” incorpora no texto<br />

datilografado diversas anotações que aparecem manuscritas nos <strong>de</strong>mais textos do acervo, o que<br />

permite pensar que seria esse o material mais próximo daquilo que se pretendia levar às filmagens. A<br />

“última versão” consiste num texto <strong>de</strong> 84 páginas, 135 cenas, diálogos, especificações <strong>de</strong> movimento<br />

<strong>de</strong> câmera, indicações musicais e <strong>de</strong> efeitos sonoros e orientações sobre as ações dos personagens.<br />

Algumas poucas correções aparecem <strong>de</strong> forma manuscrita.<br />

Na trama, Roberto, Erasmo e Wan<strong>de</strong>rléia interpretam a si mesmos: estrelas do programa<br />

televisivo Jovem Guarda. Uma organização composta por velhinhos e velhinhas reacionários,<br />

<strong>de</strong>nominada SSS (sigla que em nenhum momento é elucidada no roteiro, mas cuja referência<br />

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