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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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menção explícita do nome Nadine ou Sallanches, pois o fluxo <strong>de</strong> planos no vagão-restaurante não é<br />

trazido pela referência ao nome, mas a um dado nome, provavelmente ao <strong>de</strong> alguém da mesma<br />

ida<strong>de</strong> (percebe-se na discussão do casal), e pela presença aleatória da moça <strong>de</strong>stacada pela<br />

câmera.<br />

Além disso, são várias moças que aparecem. Loiras e morenas (embora ele saiba que<br />

Nadine tem cabelos escuros). Todas trazendo livros, a maioria andando e entrando em bares / cafés,<br />

mas com um <strong>de</strong>talhe que indica se tratar <strong>de</strong> uma estudante (Diego sabe que ela é filha <strong>de</strong><br />

engenheiro, ex-estudante <strong>de</strong> um Liceu situado em região privilegiada <strong>de</strong> Paris e atualmente<br />

universitária). Não sabemos quem são as moças. Figuras in<strong>de</strong>terminadas, elas possuem aspectos<br />

que sugerem Nadine e, ao que tudo indica, isso <strong>de</strong>veria bastar para os objetivos do revolucionário.<br />

No entanto, elas possuem várias faces, e é essa varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> feições joviais e juvenis que parece<br />

não permitir antecipar a imagem <strong>de</strong> Nadine, faltando a Diego o que <strong>de</strong>la seria específico, o rosto –<br />

justamente o que, seguindo Elias, i<strong>de</strong>ntifica a pessoa, pois a sua “musculatura facial dúctil, [é] capaz<br />

<strong>de</strong> assumir marcas diferentes conforme a experiência individual” (ELIAS, 1994, p. 158).<br />

Diferente das imagens mentais em que aparece o rosto do amigo em provável perigo, caso<br />

<strong>de</strong> Juan (Jean François Rémi), o <strong>de</strong> Carmen (Françoise Bertin), o dos camaradas e compatriotas, os<br />

quais ele bem conhece, o <strong>de</strong> Nadine lhe é <strong>de</strong>sconhecido. A profusão <strong>de</strong> planos antecipatórios <strong>de</strong><br />

quem seria a moça associam juventu<strong>de</strong>, leveza e movimento, subindo ou <strong>de</strong>scendo escadas,<br />

andando ou cruzando a rua, entrando em bares ou no portão <strong>de</strong> número 7. Po<strong>de</strong>-se supor que as<br />

informações que Diego possui lhe permite reconhecer, atualizando imagens, o local em que vive<br />

Nadine. Contudo, a presença <strong>de</strong> vários planos, <strong>de</strong> várias figuras, <strong>de</strong> vários movimentos e em diversas<br />

direções, <strong>de</strong> várias faces e mo<strong>de</strong>los andando pela Rue <strong>de</strong> L’Estrapa<strong>de</strong> ou chegando ao número 7, em<br />

outros termos, o gran<strong>de</strong> fluxo <strong>de</strong> planos com essas imagens também po<strong>de</strong>m sugerir o in<strong>de</strong>terminado<br />

que não permite fechar a imagem (ou, se se preferir, <strong>de</strong>cidir qual seria a imagem) <strong>de</strong> Nadine.<br />

Deixemos <strong>de</strong> lado a preocupação com a memória e com os reconhecimentos. Voltemos a<br />

atenção para a noção <strong>de</strong> imaginário e insistamos com ela, tomando-a <strong>de</strong> alguém que a tenha trazido<br />

para o centro do <strong>de</strong>bate, Cornelius Castoriadis. Vejamos o que diz o autor:<br />

O imaginário não é a partir da imagem no espelho ou no olhar do outro. O<br />

próprio “espelho”, e sua possibilida<strong>de</strong>, e o outro como espelho são antes<br />

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