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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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Percebe-se a colagem e não a planificação, como procedimento estético dominante da<br />

montagem por correspondências, baseando-se em um princípio <strong>de</strong> fragmentação e restauração,<br />

longe <strong>de</strong> conduzir o olhar e estabelecer uma continuida<strong>de</strong>. A colagem provoca a construção <strong>de</strong><br />

hipóteses do espectador e suscita reaproximações entre unida<strong>de</strong>s esparsas no filme, tornando-se<br />

imprevisível, constituindo a relação entre os planos através <strong>de</strong> ecos 3 .<br />

A relação entre os planos aqui se dá através <strong>de</strong>sses ecos, construindo repetições,<br />

semelhanças, reposições em consequência da formação <strong>de</strong> rimas, estas como similarida<strong>de</strong>s<br />

aproximativas, que, por vezes, tornam-se distantes e causam sensações que afloram os sentidos do<br />

espectador (XAVIER, 2012). Como exemplo, po<strong>de</strong>mos citar um dos nossos objetos <strong>de</strong> análise A<br />

dupla vida <strong>de</strong> Veronique (1990), que se utiliza <strong>de</strong> recorrências e situações <strong>de</strong> equivalência,<br />

projetando sensações que ten<strong>de</strong>m a se manifestar em momentos esparsos.<br />

A estética da montagem por correspondências apresenta o ritmo e a rima como elementos<br />

característicos em sua estrutura relacionada à forma e ao tempo, como afirma Amiel (2007, p. 114),<br />

“as escansões transformam a duração, e os ecos mo<strong>de</strong>lam-na <strong>de</strong> outra forma”. Os cortes não<br />

proporcionam saltos temporais, ao invés disso <strong>de</strong>sagregam os fragmentos, possibilitando situações<br />

<strong>de</strong> contradição ou repetições, ir e vir, sem, no entanto, seguir cronologicamente uma linearida<strong>de</strong>.<br />

Percebemos isso <strong>de</strong> forma latente em O espelho (1975), nosso segundo objeto <strong>de</strong>sta pesquisa, que<br />

traz uma análise existencial do ser humano, mesclando ficção científica, poesia e filosofia. O filme<br />

exige do espectador a formulação <strong>de</strong> hipóteses acerca do que se apresenta na tela, antes do<br />

<strong>de</strong>sfecho final.<br />

A relação espaço-temporal na montagem por correspondências se pronuncia <strong>de</strong> forma<br />

subjetiva, já que remete à percepção do instante e não à duração, <strong>de</strong> acordo com a ruptura ou o<br />

comprimento. Há uma espécie <strong>de</strong> percepção acronológica, não permitindo ao espectador fazer<br />

distinção do tempo, da época, provocando um mergulho no fluxo visual da unida<strong>de</strong> fílmica. Como<br />

acontece em O espelho (1975), em que presente e passado se fun<strong>de</strong>m em instantes próximos,<br />

durante a montagem, sem que haja uma diferenciação temporal. Neste sentido, as articulações<br />

visuais e sonoras, coexistem <strong>de</strong> forma diferenciada, sem no entanto, estabelecer a qual momento<br />

pertence aquela situação.<br />

A partir <strong>de</strong>ssa breve enunciação dos principais aspectos da montagem em questão, é<br />

3 Efeito visual ou sonoro que lembra outro, criando efeitos sensíveis que <strong>de</strong>sembocam em rimas (AMIEL, 2007).<br />

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