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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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com relação aos problemas contemporâneos.” (STAM, 1913, p. 58). Assim também o fizera Bressane,<br />

porém, subvertendo a própria forma, evocando a crise como solução estética (Xavier, 2012).<br />

A poesia proposta por Bressane nos faz mergulhar em um universo infinito <strong>de</strong> proposições<br />

que po<strong>de</strong>riam ser instrumentalizadas através <strong>de</strong> várias vertentes teóricas, entretanto, tais métodos <strong>de</strong><br />

análise configurariam itinerários <strong>de</strong> leitura possíveis, fazendo com que surjam algumas inquietações<br />

como qual <strong>de</strong>les um espectador da obra <strong>de</strong> Bressane <strong>de</strong>veria adotar? Estaria a resposta <strong>de</strong>ntro do<br />

próprio filme, como nos propõe os estudos estruturalistas, ou nas particularida<strong>de</strong>s do espectador,<br />

segundo os estudos <strong>de</strong> recepção? Ou ainda com mais ousadia, haveriam <strong>de</strong> fato respostas? Ora, se<br />

pensarmos pela perspectiva da anti-arte 7 , talvez não. Daí eleva-se o conceito <strong>de</strong> anti-herói, que<br />

ratifica o caráter antropofágico do cineasta, na tentativa <strong>de</strong> sugerir uma postura mais ativa do<br />

espectador em busca <strong>de</strong> caminhos reflexivos mais satisfatórios para a solução <strong>de</strong> possíveis<br />

respostas.<br />

Contudo, alguns pressupostos <strong>de</strong> Kracauer (1960) nos ajuda a refletir o cinema <strong>de</strong> Bressane<br />

sob a postura do engajamento social. Seu discurso marxista lança dúvidas quanto à influência<br />

exercida pela hegemonia cultural que prevê sob a perspectiva crítica um cinema <strong>de</strong> “abate ao gado”,<br />

precursor da anti<strong>de</strong>mocracia. Para Duhamel (STAM, 2013) esta i<strong>de</strong>ia é problematizada a partir do<br />

conceito “<strong>de</strong> que o cinema convertia o público em uma entida<strong>de</strong> bovina e passiva” (p. 83), um legítimo<br />

“matadouro da cultura”. Para Duhamel, a massificação do cinema estupidificara as mentes elevando<br />

a espetacularização à falsa sensação <strong>de</strong> abastamento.<br />

Já para Adorno (STAM, 2013), o cinema estava provido da crença <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>r focado na<br />

negação crítica, produzindo espectadores como consumidores. Tanto Adorno quanto Horkheimer<br />

(STAM, 2013) estavam preocupados com a legitimação i<strong>de</strong>ológica do cinema, “as massas iludidas,<br />

hoje, <strong>de</strong>ixam-se cativar pelo mito do sucesso muito mais que as próprias pessoas bem-sucedidas.<br />

Imóveis, se obstinam na própria i<strong>de</strong>ologia que as escraviza.” (STAM, 2013, p. 88). Tal apontamento<br />

7 O conceito anti-arte apoia-se na i<strong>de</strong>ia dadaísta da <strong>de</strong>terminação do valor estético não como procedimento<br />

técnico, mas como um puro ato mental, uma atitu<strong>de</strong> diferente em relação à realida<strong>de</strong>: “Com suas intervenções<br />

inesperadas e aparentemente gratuitas, o Dadaísmo propõe uma ação perturbadora, com o fito <strong>de</strong> colocar o<br />

sistema em crise, voltando para a socieda<strong>de</strong> seus próprios procedimentos ou utilizando <strong>de</strong> maneira absurda as<br />

coisas a que ela atribuía valor.” (ARGAN, 1999, p. 356). O estilo inventivo e provocativo do artista dadaísta<br />

Marcel Duchamp chamou a atenção da crítica pelo caráter enigmático <strong>de</strong> suas obras, consi<strong>de</strong>radas quebracabeças<br />

<strong>de</strong>safiadores a estudiosos e o gran<strong>de</strong> público: “Precisa-se apenas <strong>de</strong> virar o caleidoscópio da<br />

interpretação para <strong>de</strong>scobrir que os fragmentos da vida <strong>de</strong> Duchamp e da sua obra, formaram um novo padrão.”<br />

(MINK, 2000, p.8).<br />

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