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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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Inhabitants (1970)<br />

Como tema básico <strong>de</strong> Habitantes, há a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> uma atitu<strong>de</strong> humana<br />

para com a natureza e o mundo animal: “Para e olhe ao seu redor,<br />

Homem, aon<strong>de</strong> foi que você chegou?”. A questão central é a agressão<br />

do homem à natureza e a ameaça iminente <strong>de</strong> abalo da harmonia<br />

natural. (PELESHIAN, 2015, p.178)<br />

Na abertura é fascinante a plasticida<strong>de</strong> dos movimentos do cisne abrindo as asas, as linhas<br />

diagonais que se formam <strong>de</strong>ntro do próprio plano, enquadramentos em <strong>de</strong>talhe que se repetem <strong>de</strong><br />

maneira invertida e são visualizados com nova carga dramática. As diferenças <strong>de</strong> tonalida<strong>de</strong>s entre a<br />

plumagem branca do animal e as sombras em áreas menos iluminadas em contínuo diálogo com as<br />

partes em penumbra. Uma suave coreografia que <strong>de</strong> maneira ca<strong>de</strong>nciada anuncia a liberda<strong>de</strong> e a<br />

harmonia existente naquela forma <strong>de</strong> se relacionar como o mundo. A poesia parece emergir, assim,<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do próprio quadro para posteriormente transbordar na montagem.<br />

O contraste, a ruptura, o <strong>de</strong>sequilíbrio é introduzido, neste caso, através do som, elementos<br />

caóticos e ruidosos que funcionam como elementos <strong>de</strong> inquietação, <strong>de</strong>sconforto, ausência <strong>de</strong> paz.<br />

Gritos, explosões, barulhos <strong>de</strong> tiros anunciam a presença do homem e seu “avanço” bélico. Peleshian<br />

diminui a duração dos planos em comparação aos iniciais, seleciona movimentos, ações internas<br />

mais rápidas e parece acelerar a velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> algumas imagens, aprofundando, assim, a percepção<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m e falta <strong>de</strong> harmonia. O som ultrapassa o tamanho do quadro, amplia as dimensões da<br />

imagem visualizada e gera uma espécie <strong>de</strong> imaginário em relação ao extracampo.<br />

O curta-metragem parece, <strong>de</strong> maneira horizontal, estar estruturado em blocos separados por<br />

fa<strong>de</strong>s. Entretanto, é curioso perceber i<strong>de</strong>ias que são retomadas e rearticuladas em diferentes<br />

momentos, em como imagens iniciais ressoam em outras mais adiante e em como o próprio som já<br />

indica e sugestiona imagens que estão por vir. Os “cavaleiros do apocalipse” por exemplo, as<br />

imagens <strong>de</strong> sombras que parecem miragem caminhando em direção a câmera, po<strong>de</strong>m ser<br />

compreendidas em diálogo tanto com o som caótico que acompanha a correria dos animais no bloco<br />

anterior, quanto com o som onírico e as vozes em coral sincronizadas com as imagens em plano<br />

geral aéreo dos animais correndo pela planície.<br />

A mais importante particularida<strong>de</strong> da montagem distancial consiste no<br />

fato <strong>de</strong> que uma ligação <strong>de</strong> montagem à distância se estabelece não<br />

só entre elementos isolados como tais (um ponto em relação ao<br />

outro), mas também – o que é mais importante – entre conjuntos<br />

inteiros <strong>de</strong> elementos (um ponto com um grupo, um grupo com outro,<br />

um plano com um episódio, um episódio com outro. Assim, acontece<br />

uma interação entre um processo e outro oposto a ele. (PELESHIAN,<br />

2015, p.176-177.)<br />

Após novos planos <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong> rostos <strong>de</strong> animais atrás <strong>de</strong> gra<strong>de</strong>s, close <strong>de</strong> pássaros voando<br />

e efeitos <strong>de</strong> montagem como retroce<strong>de</strong>r e espelhar as imagens, o ballet visual termina com o plano<br />

geral reproduzido, em lopping, duas vezes <strong>de</strong> um bando <strong>de</strong> pássaros voando. Uma centelha <strong>de</strong><br />

esperança <strong>de</strong> que ainda é possível haver harmonia e equilíbrio <strong>de</strong>pois do caos, uma perspectiva <strong>de</strong><br />

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