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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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Com ou sem or<strong>de</strong>m?, <strong>de</strong> início, aproxima-se fortemente do rótulo pedagógico. Composto por<br />

sequências que apresentam <strong>de</strong>terminada situação do cotidiano escolar e do tráfego urbano ora <strong>de</strong><br />

maneira or<strong>de</strong>nada, ora <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada, o filme é uma apresentação didática da diferença entre os dois<br />

pólos sugeridos pelo título. 3 Entretanto, o <strong>de</strong>senvolvimento do filme faz valer a observação <strong>de</strong> Alberto<br />

Elena, para quem esse seria o curta do Kanun cujo propósito educativo é mais irrelevante (ELENA,<br />

2005, p. 33).<br />

Antes <strong>de</strong> nos <strong>de</strong>bruçarmos sobre o curta, vale ressaltar que não buscamos aqui ver como o<br />

filme "pensa" ou "reflete" sobre <strong>de</strong>terminado assunto, mas sim em como ele constitui uma teoria.<br />

Essa hipótese perpassa o artigo <strong>de</strong> Aumont "Po<strong>de</strong> um filme ser um ato <strong>de</strong> teoria?", que nos auxiliou<br />

na presente investigação. No início <strong>de</strong> seu texto, Aumont expõe as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sua hipótese:<br />

Diferentemente do pensar, ativida<strong>de</strong> que nos habituamos a aceitar como<br />

passível <strong>de</strong> incluir diferentes aspectos, em particular as passagens pela<br />

experiência sensível ou pela experiência afetiva, teorizar sempre encontra a<br />

abstração, o esquema, o mo<strong>de</strong>lo; ele se <strong>de</strong>senvolve em um espaço mental<br />

em que não há imagens nem figuras; em que ao fluxo prefere-se o corte<br />

que o conceito introduz (...). (AUMONT, 2008, p.22)<br />

Segundo o autor, enquanto o pensar é um termo sempre um tanto mais amplo e vago, que<br />

serve a inúmeros propósitos, o teorizar é mais restrito. E mesmo que a teoria possua uma diversida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>finições, po<strong>de</strong>ríamos concentrar seu significado "em torno <strong>de</strong> três núcleos: a especulação, a<br />

sistematicida<strong>de</strong>, a força explicativa" (AUMONT, 2008, p. 25).<br />

Aumont, porém, após um percurso <strong>de</strong> indagações, chega a uma conclusão que soa<br />

certamente frustrante: um filme não po<strong>de</strong> ser uma teoria. A imagem, apesar <strong>de</strong> servir à reflexão como<br />

a linguagem, não po<strong>de</strong>, como esta, se preten<strong>de</strong>r a explicar as coisas. Somente a linguagem o faz,<br />

pois consegue colocar "no mesmo plano as palavras que <strong>de</strong>signam as coisas, as que <strong>de</strong>signam os<br />

atos e as que nomeiam as i<strong>de</strong>ias" (AUMONT, 2008, p. 30), o que nos carrega <strong>de</strong> volta ao problema<br />

do esquema e da abstração que envolvem a teoria.<br />

Todavia, no seu percurso analítico, Aumont elucida diversas questões sobre o teorizar e<br />

afirma, finalmente, que um filme, apesar <strong>de</strong> não o ser, po<strong>de</strong> sim se assemelhar a um ato <strong>de</strong> teoria. E<br />

é a partir <strong>de</strong>ssa abertura e dos diversos pontos tocados pelo autor que preten<strong>de</strong>mos ver Com ou sem<br />

or<strong>de</strong>m? como um ato teórico.<br />

3 Tal estrutura binária já aparecera antes em filmes como Duas soluções para um problema (1975) e Caso 1,<br />

caso 2 (1979).<br />

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